sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Um presente extravagante

No famoso conto “O presente dos magos”, O. Henry conta a história de uma jovem esposa que tem menos de 2 dólares para comprar um presente de Natal para o marido. Com a festividade se aproximando, ela decide impulsivamente vender seu cabelo longo e abundante para ter como comprar uma corrente para o estimado relógio de ouro dele. Naquele exato momento, seu marido decide vender o relógio para comprar um presente para ela: escovas especiais para o seu belíssimo cabelo.

O conto trata sobre a espontaneidade de fazer algo extravagante, não importando o quão tolo possa parecer à primeira vista, ou mesmo o que os outros venham a dizer, mas cuja atitude por si só visa a valores que o coração não deixa calar.

Vez por outra é provável que nos achemos fazendo algo parecido: vamos em frente e esvaziamos a carteira porque determinado presente seria perfeito para alguém a quem amamos. Nessas horas não importa se, simultaneamente, haja sempre alguém indagando o porquê de tanto desperdício.

Com atitudes desse porte o mundo se torna mais belo, a vida parece mais lúdica e menos séria, a despeito das pessoas mesquinhas que utilizam sua métrica minimalista, egoísta e castradora para desafiarem a generosidade de um coração agradecido.

Ora, até mesmo em obras públicas de grande porte, que visam ao bem comum, quando grandes desapropriações são levadas a efeito, há sempre aqueles que questionam e criticam. Ouve-se sempre: para que tudo isso? Quanto desperdício!

Jesus foi alvo de uma atitude de extrema dedicação de amor que desencadeou críticas veladas dos egoístas de plantão, como indica o texto bíblico:

“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Indignaram-se alguns entre si e diziam: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela.”

Mas Jesus entendeu a grandiosidade de seu gesto e, na contra-mão da maioria, disse: “Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua” (Mc 14.3-9).

Que gesto lindíssimo e impulsivo de extrema gratidão! Pela avaliação humanamente egoísta, foi uma coisa tola de se fazer e demonstradora de extravagante desperdício. Contudo, Jesus ficou tão profundamente comovido que profetizou que a história da impulsividade generosa dessa mulher seria contada e recontada ao longo das gerações até o fim dos tempos.

A Assembleia de Deus em Belém durante 30 anos orou para comprar os imóveis contíguos ao templo central. Agora o conseguiu. E para quê? Para expressar, em seu Centenário, o quanto é grata pelo trabalho de tantos homens e mulheres que deram suas vidas para transmitirem o amor de Jesus às gerações seguintes, até que nós, hoje, fomos alcançados. Só isso!

E como vamos expressar esse amor? Simplesmente em demolir as construções e, em seu ligar, construir a AVENIDA CENTENÁRIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS, fazendo a ligação entre a José Malcher e a João Balbi. Isso possibilitará um novo acesso ao estacionamento do templo, um melhor fluxo de veículos e mais espaço para receber as caravanas do Centenário.

Parece extravagante? Mas é o nosso jeito de dizer o quanto somos gratos a Deus: “É justo render-lhe graças e louvor”. Esse é também o nosso gesto de gratidão às gerações passadas, em reconhecimento do penoso trabalho de suas almas.

Voltando à mensagem de Jesus em relação àquela mulher: ela indica que historicamente sempre existirá lugar real para o impulsivo e o espontâneo, sempre haverá espaço para a generosidade que não seja estritamente necessária, sempre haverá oportunidade para o heróico e o extraordinário, para as incontroláveis e incalculáveis explosões de generosidade, cujas atitudes visam unicamente a dizer o quanto vale a pena expressar, mesmo que em gestos extravagantes, o amor que inunda a alma.


Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -
http://www.oliberal.com.br/

sábado, 21 de novembro de 2009

Missão Bíblica Essencial

“Quem não sabe para onde vai, qualquer caminho leva, e não chega nunca”. Esse dito popular aponta para o fato de que não se obtém êxito sem alvos claros e coerentes. Quando deixamos as coisas correrem livres “para ver como é que fica”, corremos o risco de errar demais ou de acertar de menos. Por isso, é sempre bom buscar o equilíbrio, reavaliando objetivos e fazendo balanço das atividades, para depois retomar compromissos e redirecionar esforços para cumprir a sua missão, quer se trate de um indivíduo, de uma empresa ou da Igreja.

Reavaliar alvos tem a ver com o que o salmista orou: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12). É a coragem para admitir erros e pagar o preço dos acertos que gera a sabedoria de que tanto precisamos para uma vida realmente útil e vitoriosa.

A Assembléia de Deus em Belém se empenha em cumprir sua missão bíblica essencial: Adorar a Deus, Manter comunhão com os irmãos, Evangelizar os povos, Discipular os salvos, eVigiar e Orar até Jesus voltar.

Na sua adoração a Deus, a Igreja precisa voltar à antiga prática de todos os crentes chegarem ao templo e adorarem, logo se ajoelhando em fervente oração, sem que ninguém precise mandá-los orar. Quando há a compreensão de que a oração é um ministério de todos, a adoração melhora. Adorar é como respirar. Sem adoração, a Igreja não é arejada pelo sopro do Espírito e descamba para o formalismo; perde o viço e cai na mesmice, perde o sentido de ser Igreja gloriosa e deixa de ser abençoadora; faz dos seus membros seres opacos, quando deveriam ser luzeiros a iluminar o caminho dos que estão nas trevas do pecado.

A nossa comunhão é gerada no âmbito da adoração a Deus. Ela precisa avançar no cuidado de uns pelos outros, principalmente dos menos favorecidos, fazendo do apoio e socorro aos que sofrem uma expressão do “bom cheiro de Cristo”. Há o desafio de amar a todos indistintamente e dar-lhes o apoio que instila o senso de dignidade de serem co-participantes de uma obra gloriosa cujo destino é eterno.

Adoração e comunhão deságuam na evangelização. É preciso continuar evangelizando, visitando e abençoando as pessoas, como fizeram os primeiros discípulos. É necessário que cada crente compreenda o seu dever de ser uma testemunha: no lugar onde vive, no seu trabalho, junto a seus amigos e familiares. Precisamos compreender isto: melhor nos ouve quem mais nos conhece. E há muitos que foram escolhidos por Deus e precisam ouvir a mensagem para serem salvos.

Uma vez integrados à vida normal da Igreja, estes salvos devem ser ajudados através do discipulado. Pelo número de pessoas que se decidem a Cristo em nossas igrejas, já de muito deveriam transbordar os nossos templos, ou em muito se acentuaria a necessidade de novas construções. Isso aponta para a deficiência do discipulado, pois parece que a porta dos fundos das igrejas é mais larga que a da frente.

Incomoda-nos o fato de não poucos agirem como “sal do sal” e “luz da luz”, sem causarem nenhuma influência fora dos templos, como deveriam, mas apenas parecerem fervorosos e santos dentro deles. Temos a responsabilidade de ser “sal e luz”, tanto no âmbito da igreja como diante do mundo. Mas isso só é conseguido com oração e vigilância.

Quando alguém nega a mensagem que prega ou a desmente pelas suas próprias ações, “o nome de Deus é blasfemado” (Rm 2.24). Incomoda-nos que a fé de muitos seja um tipo de “fé na fé”, ou seja, fé em coisas e pessoas, fé em métodos, fé em obras, não uma genuína e legítima fé simples baseada na Palavra de Deus.

Ao avaliarmos e aprimorarmos os nossos alvos, o cumprimento do IDE de Jesus será muito mais significativo. Mas temos muitas deficiências a serem supridas, pois somos humanos, não somos perfeitos. É por isso que a Igreja é o lugar de receber pessoas emocionalmente quebradas, frustradas, perdidas, sem sentido na vida. É no burburinho do encontro de gente imperfeita que a “multiforme graça de Deus” se torna mais poderosa em sua operação de transformar vidas.

“As portas do inferno não prevalecerão” contra a Igreja de Cristo (Mt 16.18). Temos de agradecer a Deus pela missão cumprida até aqui, pelos alvos alcançados, mas devemos reconhecer que ainda há muito para conquistar. Porém, se descuidarmos, perderemos o passo. Assim, é bom perguntar: será que Jesus pode contar conosco?


Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -
http://www.oliberal.com.br/

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Muito melhor do que palavras

Certo homem havia perdido três filhos, vítimas de acidente, e descreveu dois exemplos de conforto que recebera durante os momentos de pior tristeza: "Alguém me falou sobre o cuidado de Deus, sobre a razão de aquilo ter acontecido e sobre a esperança depois da morte. Falava constantemente, dizendo coisas que eu sabia serem verdade. Nada, porém, me tocou. Eu desejava apenas que ele fosse embora. E, finalmente, ele se foi."

"Outro homem chegou e sentou-se ao meu lado. Ele também perdera um filho recentemente. Não falou nada, não perguntou nada. Apenas sentou-se ao meu lado por mais de uma hora, ouvindo quando eu dizia alguma coisa e dando respostas curtas. Depois fez uma oração simples e foi embora. Fui tocado. Senti-me confortado. Detestei vê-lo ir embora."

Geralmente, quando encontramos pessoas desoladas ou vivendo sob a carga de algum sofrimento, nos ocorre a necessidade de preencher o desconforto da situação com palavras. Talvez pelo receio de, se não dissermos algo, o estado delas vir a piorar. Por outro lado, podem ocorrer situações que nos forcem a evitar uma aproximação, tão somente porque não sabemos o que dizer.

De qualquer modo, mais cedo ou mais tarde, qualquer um de nós pode enfrentar essas situações.

Penso no caso de Jó, cujas perdas pessoais e familiares foram terríveis: perdeu riqueza, prestígio, saúde e todos os filhos. Só lhe sobrou um pouco de dignidade pessoal, que ele guardava consigo, e um simples caco de telha para se coçar.

A esposa, cheia de rancor, lhe deu um conselho absolutamente desesperado: "Amaldiçoa a Deus e morre!". Podemos até mesmo concordar que ela deveria ter ficado calada. Mas como calar diante de tanta tragédia? Esse caso era, definitivamente, o de alguém que não sabia o que dizer.

Depois vieram os amigos. E que amigos! Vieram de longe para consolar o desventurado Jó. Disseram tudo o que quiseram: ministraram lições de teologia, conversaram sobre noções de justiça e direito, defenderam Deus, mas, sobretudo, acusaram Jó de estar sofrendo o que merecia. Esse era o caso de pessoas que diziam o que não sabiam.

Em sua tristeza, Jó almejava pelo apoio silencioso dos amigos. Ele até clamou: "Oxalá vos calásseis de todo, que isso seria a vossa sabedoria" (Jó 13.5). Mas tudo o que eles falavam tinha o condão de desanimá-lo cada vez mais. Era o "empurrãozinho" de que precisava o sofrimento para ser completo.

Ainda hoje, há muitos "amigos de Jó" de plantão. Se acontece alguma tragédia com alguém, logo se perguntam o que teria favorecido tal situação, para em seguida arriscarem vereditos como se fossem verdades proféticas. E o resultado é sempre negativo e dolorosamente constrangedor.

Porém, na maioria das vezes, tudo o que a pessoa sofredora precisa é de uma presença amiga que não julgue, de um ombro amigo que deixe chorar. Quando você não souber o que dizer, apenas ore. Na maioria dos momentos de grande dor as palavras pouco representam. A não ser que Deus fale diretamente dentro da situação e traga o Seu conforto de um modo que só a Ele compete.

Desse modo, na próxima vez em que estiver com pessoas que estão enfrentando o sofrimento, deixe que a sua presença seja o conforto. Talvez seja a sua presença tudo de que precisa o Espírito Santo Consolador para trazer conforto aos quebrantados de coração e aos esmagados pela dor. Isso é, com certeza, muito melhor do que palavras.

Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -
http://www.oliberal.com.br/

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Lições de um túmulo vazio

O cético Frances Joseph-Ernest Renan involuntariamente falou sobre a verdade da ressurreição ao zombar: "O cristianismo vive da fragrância de um frasco vazio". Sem querer, Renan estava se referindo ao fundamento da fé cristã, a pedra angular do Evangelho: um túmulo vazio! Uma tumba sem um corpo nela, naquela primeira manhã da ressurreição!

Uma personagem do romance "O Porto", de Ernest Poole, comenta cinicamente: "A História é apenas um noticiário do cemitério".

O que o cético Renan e o cínico Poole não conseguiam ver era a incontestável verdade de que há uma grande exceção à tristeza de todos os cemitérios e suas silenciosas mensagens de morte: as eletrizantes notícias do túmulo onde Jesus foi sepultado, de que a morte foi vencida e as portas da vida eterna foram abertas por Jesus.

"Ele não está aqui; ressuscitou, como tinha dito. Vinde ver onde ele jazia" (Mt 28.6). Jesus "não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade, mediante o evangelho" (2 Tm 1.10).

De certa forma, os túmulos falam da História na mesma proporção da morte que os favorece. Por isso, convém perguntar: que lições os túmulos (assim como a própria morte) ensinam para a vida?

Pensemos em duas preciosas lições que deveriam ser consideradas.

A primeira lição: os túmulos ensinam que é preciso repensar as nossas prioridades. Sabendo que a vida era curta demais para perder-se tempo com futilidades, Moisés clamou a Deus: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio" (Sl 90.12).

Orar dessa maneira nos levará indubitavelmente a considerar o que, de fato, vale a pena na vida. Dinheiro, poder, prazer, tão avidamente buscados, muitas vezes ao custo da própria vida, empalidecem e sucumbem diante das prioridades que realmente contam.

Não são poucos os exemplos que conhecemos de pessoas que, depois de encararem a morte, salvas como "por um fio", resolvem mudar as suas prioridades e reorganizar a vida. Assim, elas descobrem que servir é muito melhor que ser servido; que dar é mais bem aventurado que receber; que honrar está acima de ser honrado; que o que vale a pena na vida não pode ser comprado pelo dinheiro, conquistado com o poder, nem tampouco desfrutado com desonra.

A segunda lição: os túmulos nos ensinam que devemos pensar na eternidade. Embora a morte seja o fim de todos os mortais, ela certamente não é o fim de tudo nem detém a última palavra sobre o futuro. É precisamente isto que nos ensina o Evangelho, ou "boas novas", no fato histórico de que Cristo Jesus veio ao mundo para nos libertar do poder do pecado e da morte.

Jesus nos propiciou a única maneira de escaparmos da morte, física e espiritualmente. Pela sua morte na cruz, Jesus possibilitou a nossa reconciliação com Deus, e, desse modo, desfez a separação e a alienação espirituais resultantes do pecado. Pela sua ressurreição, Ele finalmente venceu e aboliu o poder de Satanás, do pecado e da morte.

Algumas pessoas não querem pensar na eternidade, por isso afirmam: "Morreu, acabou!". Mas como será, quando chegarem "do outro lado" e descobrirem que a vida aqui era apenas o começo, o embrião da eternidade?

Outras pessoas dizem: "Quando eu estiver mais velho, então seguirei a Cristo". Mas quem sabe se ficará velho ou se morrerá novo?

Há os que pensam: "Antes de morrer, eu aceitarei a Cristo". Porém, quem sabe o dia da própria morte?

As lições do túmulo vazio de Jesus são para reflexão, preparação e esperança. Elas apontam para a eternidade, como está escrito: "O próprio Senhor descerá dos céus, ouvida a voz do arcanjo, e o som da trombeta de Deus. Aqueles que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Então, nós os vivos, seremos levados junto com eles, para nos encontrarmos com o Senhor nos ares, e assim ficaremos para sempre com o Senhor. Consolem-se uns aos outros com estas palavras" (1 Ts 4.16-18).

Agora, atente para essas grandes lições do túmulo vazio. A morte não é o fim! Jesus venceu a morte! Ele vive para sempre! Portanto, creia Nele, viva com Ele, por Ele e para Ele! Jesus é a única esperança!

Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -
http://www.oliberal.com.br/