No famoso conto “O presente dos magos”, O. Henry conta a história de uma jovem esposa que tem menos de 2 dólares para comprar um presente de Natal para o marido. Com a festividade se aproximando, ela decide impulsivamente vender seu cabelo longo e abundante para ter como comprar uma corrente para o estimado relógio de ouro dele. Naquele exato momento, seu marido decide vender o relógio para comprar um presente para ela: escovas especiais para o seu belíssimo cabelo.
O conto trata sobre a espontaneidade de fazer algo extravagante, não importando o quão tolo possa parecer à primeira vista, ou mesmo o que os outros venham a dizer, mas cuja atitude por si só visa a valores que o coração não deixa calar.
Vez por outra é provável que nos achemos fazendo algo parecido: vamos em frente e esvaziamos a carteira porque determinado presente seria perfeito para alguém a quem amamos. Nessas horas não importa se, simultaneamente, haja sempre alguém indagando o porquê de tanto desperdício.
Com atitudes desse porte o mundo se torna mais belo, a vida parece mais lúdica e menos séria, a despeito das pessoas mesquinhas que utilizam sua métrica minimalista, egoísta e castradora para desafiarem a generosidade de um coração agradecido.
Ora, até mesmo em obras públicas de grande porte, que visam ao bem comum, quando grandes desapropriações são levadas a efeito, há sempre aqueles que questionam e criticam. Ouve-se sempre: para que tudo isso? Quanto desperdício!
Jesus foi alvo de uma atitude de extrema dedicação de amor que desencadeou críticas veladas dos egoístas de plantão, como indica o texto bíblico:
“Estando ele em Betânia, reclinado à mesa, em casa de Simão, o leproso, veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Indignaram-se alguns entre si e diziam: Para que este desperdício de bálsamo? Porque este perfume poderia ser vendido por mais de trezentos denários e dar-se aos pobres. E murmuravam contra ela.”
Mas Jesus entendeu a grandiosidade de seu gesto e, na contra-mão da maioria, disse: “Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua” (Mc 14.3-9).
Que gesto lindíssimo e impulsivo de extrema gratidão! Pela avaliação humanamente egoísta, foi uma coisa tola de se fazer e demonstradora de extravagante desperdício. Contudo, Jesus ficou tão profundamente comovido que profetizou que a história da impulsividade generosa dessa mulher seria contada e recontada ao longo das gerações até o fim dos tempos.
A Assembleia de Deus em Belém durante 30 anos orou para comprar os imóveis contíguos ao templo central. Agora o conseguiu. E para quê? Para expressar, em seu Centenário, o quanto é grata pelo trabalho de tantos homens e mulheres que deram suas vidas para transmitirem o amor de Jesus às gerações seguintes, até que nós, hoje, fomos alcançados. Só isso!
E como vamos expressar esse amor? Simplesmente em demolir as construções e, em seu ligar, construir a AVENIDA CENTENÁRIA DA ASSEMBLEIA DE DEUS, fazendo a ligação entre a José Malcher e a João Balbi. Isso possibilitará um novo acesso ao estacionamento do templo, um melhor fluxo de veículos e mais espaço para receber as caravanas do Centenário.
Parece extravagante? Mas é o nosso jeito de dizer o quanto somos gratos a Deus: “É justo render-lhe graças e louvor”. Esse é também o nosso gesto de gratidão às gerações passadas, em reconhecimento do penoso trabalho de suas almas.
Voltando à mensagem de Jesus em relação àquela mulher: ela indica que historicamente sempre existirá lugar real para o impulsivo e o espontâneo, sempre haverá espaço para a generosidade que não seja estritamente necessária, sempre haverá oportunidade para o heróico e o extraordinário, para as incontroláveis e incalculáveis explosões de generosidade, cujas atitudes visam unicamente a dizer o quanto vale a pena expressar, mesmo que em gestos extravagantes, o amor que inunda a alma.
Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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