sexta-feira, 30 de abril de 2010

Não só de pão viverá o homem

“Não só de pão viverá o homem” foi uma frase proferida por Jesus num momento muito difícil da sua vida. No episódio conhecido como “tentação no deserto”, foi-lhe oferecida a possibilidade de fazer algo espetacular: transformar pedras em pães. Você já pensou: num mundo com escassez de alimento, o que isso representaria?

Fama, importância política, poder, assim como todas as benesses da popularidade na sua potência máxima.

Jesus, porém, responde firmemente: “Não só de pão viverá o homem”. Antes que o Tentador perguntasse: “Mas, então, viverá de quê?”, Jesus continua: “mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4.4).

Vive-se, segundo Jesus, da Palavra de Deus. Da mesma Palavra que criou os céus e a terra, com todas as suas belezas e cheiros, com todas as cores e formas, com toda a pujança da vida que pode e deve ser celebrada. Da mesma Palavra que nos convida a enxergar a vida com os olhos de Jesus e sorver o que ela tem de melhor.

Em que consiste a nossa vida, hoje? Para que e por que vivemos? O que nos motiva, qual a causa que inspira a nossa vida? A vida é um corre-corre, um vai-e-vem sem limites e, às vezes, temos a sensação de não estar construindo nada, de estar apenas passando pela vida sem vivê-la de fato. Ganhamos dinheiro para viver, e vivemos para ganhar dinheiro. Dormimos, acordamos, trabalhamos, comemos... e o ciclo continua.

A mesmice se instala e perdemos a capacidade de enxergar as coisas essenciais da vida, aquilo que lhe dá sentido e colorido e a torna mais bela e desejável. Refiro-me às coisas simples e legadas ao ostracismo da nossa inconsciência. Por exemplo, ler um bom livro, cheirar uma flor, ver o pôr-do-sol; enfim, poder expressar livremente a beleza poética que o Criador colocou em cada um de nós.

“Não só de pão viverá o homem”. Mas, então, de que viverá?

Enquanto meditava sobre isso, encontrei um texto muito antigo (de autor anônimo), que adaptei para compartilhar com você. Ele amplia com lirismo e poesia a resposta de Jesus, a seguir:
“Não só de pão viverá o homem, mas de beleza e harmonia, verdade e bondade, trabalho e recreação, afeição e amizade, aspiração e adoração. Não só de pão, mas do esplendor do firmamento à noite, da beleza dos céus da madrugada, da fusão de cores do crepúsculo, do encanto das flores, da magnificência das montanhas, da imponência dos rios.”

“Não só de pão, mas da majestade das ondas dos mares, da altivez da pororoca, do brilho suave da lua na superfície de um lago, do cintilar de um riacho precipitando-se monte abaixo, das formas singulares das nuvens no céu, da criação dos artistas. Não só de pão, mas do doce canto dos pássaros, do sussurro do vento nas árvores, da sedução mágica de um instrumento musical, da sublimidade de uma catedral levemente iluminada.”

“Não só de pão, mas do aroma das rosas, do perfume dos botões das fruteiras no pomar, do cheiro do mato cortado, do odor da terra molhada pela chuva, do calor da mão amiga, da ternura de um beijo, do conforto de um abraço. Não só de pão, mas dos versos dos poetas, da sabedoria dos sábios, da santidade dos santos, da leitura de bons livros, do ouvir boa música, da vida das grandes almas.”

“Não só de pão, mas de companheirismo e aventura, de procurar e encontrar, de servir e compartilhar, de amar e ser amado. Não só de pão, mas de sua fé na oração, da inspiração do Espírito Santo, em discernir e executar, agora e sempre, a vontade de Deus.”

“Não só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.”
Porém, quando perdemos a capacidade de ver essas coisas “simples”, a nossa alma fica endurecida, calejada, insensível e cega.

Oro para Deus abrir os olhos da sua alma. Veja que não se vive só de pão, o alimento trivial e passageiro. Mas principalmente do Pão da Vida, da Palavra de Deus, da verdadeira vida que vem do Verbo Divino.

Jesus disse: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede”.


Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Deus se importa comigo?

Diuturnamente, mesmo diante de toda a beleza da natureza, somos confrontados com a feiúra deste mundo, com sua inominável onda de violência e crime, com sua injustiça e degradação, principalmente quando somos atingidos pelo mal disso resultante.

A partir daí, algumas perguntas perpassam inevitavelmente as mentes: onde está Deus? Por que permite que isso venha a acontecer logo comigo? Esse é o grito de cada alma, cuja essência é esta: será que Deus se importa comigo?

Deus é amor. Sua bondade e misericórdia podem ser vistas em todo o mundo. Mas o mal é uma realidade inescapável. Parafraseando Anne Graham, eu posso dizer também que Deus fica profundamente triste quando o mal nos atinge. Deus nos criou com o livre arbítrio e respeita as nossas decisões. Portanto, quando dizemos para Deus não interferir em nossas escolhas, sair do nosso governo e sair de nossas vidas, o que devemos esperar?

Sendo Deus um “Perfeito Cavalheiro”, se o abandonarmos, Ele também calmamente nos abandonará. Como Deus quereria andar com quem não quer andar com Ele? Todos querem as bênçãos de Deus. Mas como podemos esperar que Deus conceda a sua bênção e a sua proteção, se exigimos que Ele não se envolva mais conosco?

Deus foi banido das escolas, do poder público, assim como de muitos outros setores da vida humana. Quando alguns atletas de Cristo celebram seus gols com mensagens, isso incomoda tanto, mas tanto, que a FIFA pretende banir essas manifestações durante a Copa do Mundo na África do Sul. Mas não estaria, com isso, dizendo que Deus não é mais bem-vindo aos estádios?

Quando olhamos o mundo, vemos que o mal tem prosperado e tomado conta da vida sem que tenhamos uma reação adequada, pois nos faltam valores éticos e morais superiores. Exatamente os valores que Deus nos ensina em Sua Palavra.

Em apenas uma geração, muita coisa mudou: os filhos deixaram de ter consciência moral e espiritual, muitos não sabem distinguir entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, e outros têm plantado sementes ruins cujos frutos serão também ruins.

A Palavra de Deus não é mais levada a sério como antes. É triste como muitos creem em tudo que os jornais e a televisão afirmam, mas duvidam do que a Bíblia nos diz. É lamentável constatar que muita gente quer ir para o céu, desde que não precise crer nem dizer qualquer coisa que a Bíblia ensina.

Isto certamente explica parte do problema: o Deus pessoal que se relaciona com os seres humanos e que se importa conosco, conforme revelado na Bíblia, tem sido paulatinamente banido de nossas vidas, da nossa sociedade e da nossa cultura.

Se Deus é excluído da sociedade, quer pela admissão de que evoluímos de simples primatas, ou porque não podemos deixar de crer na ciência para crer na Bíblia, como se isso fossem coisas excludentes, isto rouba das pessoas o entendimento de que precisam viver sob as leis morais de Deus.

Então, com isso, nada pode impedir de alguém viver ao seu bel prazer e fazer tudo o que quer. Entre outras coisas, isso gera inevitavelmente a banalização da vida: violência, crime, corrupção, liberação sexual, abusos, e muitos outros pecados. Ora, como ser diferente, se presumir que não haverá prestação de contas com Deus?

Agora, mudemos o foco da questão. Em vez de perguntarmos se Deus se importa conosco, cada um indague a si mesmo o quanto se importa com Deus.

Não é difícil observar que Deus tanto se importa conosco que enviou o seu próprio Filho Jesus para morrer pelos nossos pecados e nos garantir o direito à vida abundante aqui na terra e à vida eterna no céu. De nossa parte, contudo, importar-se com Deus somente quando estamos em perigo ou quando o mal bate à nossa porta é meramente um modo utilitarista de ver a vida. Mas, lembre-se, Deus não é nosso servo.

Temos de entender, contudo, que manter um relacionamento efetivo com Deus não significa que não teremos problemas na vida. Mas, mesmo que os tenhamos, Deus estará ao nosso lado, nos confortando e nos dando forças para prosseguir.

Ele está presente e o Seu amor é imenso, nos garantindo a Sua real participação nas alegrias e tristezas, e que no final tudo vai dar certo, pois “sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).

Quem o conhece pode dizer: Deus se importa comigo!



Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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segunda-feira, 19 de abril de 2010

O efeito bumerangue

Fazer julgamentos precipitados e injustos sobre outros é como o efeito bumerangue. Originário da Austrália, o bumerangue, quando eficientemente lançado, sempre volta para quem o lançou. É o caso do padeiro de uma pequena cidade, que comprava sua manteiga de um fazendeiro local. Um dia, ele pesou a manteiga e descobriu que o fazendeiro estava diminuindo a quantidade nos pacotes, mas continuava cobrando o mesmo de antes. Então o padeiro o acusou de fraude.

Na corte, o juiz perguntou ao fazendeiro: “Você tem aqueles pesos para balança de dois pratos?”

“Não senhor” – respondeu o fazendeiro. “Então, como o senhor consegue pesar a manteiga que vende?”

O fazendeiro respondeu: “Quando o padeiro começou a comprar manteiga de mim, achei melhor comprar o seu pão. Tenho usado seu pão de 500 gramas como peso padrão para a manteiga que vendo. Se o peso da manteiga está errado, ele deve culpar a si mesmo”.

O efeito bumerangue existe por causa da Lei da Equivalência preconizada por Jesus, que disse: “Com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” (Mt 7.2).

Quando alguém profere julgamento de modo precipitado e injusto, não somente está pecando contra o próximo e contra Deus, mas também se habilitando a receber de volta o mesmo tipo de tratamento. Foi o que Paulo também ensinou: “Pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas” (Cl 3.25).

Os fariseus do tempo de Jesus eram especialistas nisto. Ao tentarem se elevar a si mesmos, por causa de seu orgulho e vaidade, procuravam caluniar e difamar o caráter das pessoas que lhes fossem desafetas, destruindo-as.

Jesus confrontou duramente os fariseus por causa desse procedimento, chamando-os de catadores de ciscos: “Por que vês tu o cisco no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o cisco do olho de teu irmão”.

Uma charge com esse roteiro seria muito engraçada. Já pensou em alguém com uma trave no olho querendo tirar o cisco de outra pessoa? Isso mostra que Jesus possuía um apurado senso de humor, mas, mesmo assim, não negociava o valor dos princípios espirituais.

Assim como as leis físicas, os princípios espirituais são leis que, se desobedecidas, cobrarão o seu justo preço. O que aconteceria com alguém que subisse ao décimo andar de um prédio e, pretextando desprezar a lei da gravidade, ou julgando-a inexistente, se lançasse lá de cima? A resposta é óbvia. Por isso, pense no que pode acontecer com alguém que ousa desafiar as leis de Deus.

A crítica injusta, principalmente pelas costas, é utilizada sistematicamente por todos os “profetas com trave no olho” que andam na contramão da lei da equivalência, os contumazes “catadores de ciscos”. O apóstolo Paulo chama essas pessoas de “difamadores” e “caluniadores”, incluindo-os na mesma lista dos soberbos, homicidas, inventores de males, desobedientes aos pais, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia. (Rm 1.28-32)

Os difamadores são os mexeriqueiros, aqueles que espalham rumores secretamente. Os caluniadores são os que falam maliciosamente a respeito de uma pessoa. Há “cristãos” que jamais passariam com o carro por cima de ninguém, mas, imbuídos de um falso senso de justiça, “atropelam” prazerosamente as pessoas com suas palavras maliciosas e cheias de veneno.

Nós só temos um antídoto contra isso: é o amor com que devemos nos amar. Jesus estabeleceu a marca que identificaria os seus discípulos: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Paulo disse: “O amor seja sem hipocrisia”. Ou seja: Não finja amar, pois o amor não pode ser fingido. Pedro também falou: “Tendo em vista o amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (Rm 12.9; 1 Pe 1.22).

Precisamos nos arrepender da maledicência e substituí-la pelas afirmações das boas palavras que só o amor pode gerar. E, se alguém tiver de “falar mal” de outro, faça-o somente a Deus em oração. Quanto ao mais, “não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).

Cuide do seu “bumerangue” e guarde a sua cabeça. E que Deus nos abençoe.


Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sexta-feira, 9 de abril de 2010

O quanto você quer de Jesus?

Conta uma parábola que um crente chegou ao pastor da sua igreja e disse: “Pastor, eu gostaria de comprar um pouco de Jesus”. Ele queria apenas o suficiente para lhe dar um sono tranquilo à noite, mas nada que o perturbasse com a sorte das minorias oprimidas; que fosse o suficiente para fazê-lo dormir, mas não o fizesse sofrer com os miseráveis.

Ele queria só um pouco de Jesus que o emocionasse, mas não o transformasse; que lhe desse a cura física, mas não a cura interior. Ele queria apenas algo que lhe concedesse o calor humano, como de um “útero social”, mas nada que o levasse à crise existencial do novo nascimento.

Esse crente queria um pouco de Jesus que lhe garantisse o pão de cada dia, mas não o deixasse inquieto com os que não têm o que comer; apenas o suficiente para proteger a sua casa e os seus bens, mas não o deixasse perplexo com a situação dos que dormem debaixo das pontes. Um pouco, não muito, não tudo de Jesus; apenas o suficiente para lhe abrir as portas do céu, mas não lhe exigisse abrir os olhos para ver a maldade do seu próprio coração.

Receio que isso, embora expresso em parábola, não seja mera coincidência. É como a criança cuja mãe lhe dá pão com doce; lambe o doce e devolve o pão.

É provável que tenhamos chegado ao tempo predito por Jesus, em que “por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24.12). Alguém enamorado jamais se atrasa a um compromisso. Mas, hoje, a maioria não considera prioridade sequer chegar na hora para um culto de adoração ao Senhor.

Outra característica da nossa época é que o homem Jesus, o Filho de Deus, foi reduzido ao estereótipo de um ser mitológico, fruto da imaginação, uma pessoa “distante”. E alguns que se dizem “cristãos” vivem de tal modo como se Ele não existisse. Por isso, não é de se estranhar que alguns queiram “um pouco de Jesus”; apenas o bastante para não incomodar suas vidinhas vazias.

A questão que deveria incomodar, hoje e sempre, é se realmente acreditamos que Jesus Cristo é a resposta de Deus ao problema existencial do ser humano. Ora, se a resposta está em Jesus, o que justificaria, então, as mudanças substanciais na mensagem que é pregada por não poucos líderes cristãos e também no modo como muitos a vivem?

Preocupa-me o fato de estar sendo pregado e vivido ultimamente um cristianismo sem compromisso, uma fé utilitária, uma religião de consumo, na qual Jesus é reduzido às mesmas categorias das coisas de que precisamos.

É fácil deduzir que alguns frequentam igrejas, não porque querem Jesus, mas apenas porque desejam o que Ele pode proporcionar. Não o buscam pelo que Ele é, mas pelo que pode dar; não o buscam porque de fato o desejam, mas por entenderem que Ele é imprescindível para a realização dos seus planos pessoais.

O egoísmo próprio de nossa época quer que Jesus seja tirado do centro do universo, de modo que certos “cristãos” querem Jesus apenas o suficiente para ficar “de bem com a vida”.
Muitos desejam um cristianismo humanista, mas não divino; uma redenção sem sangue, uma salvação sem mudança de vida, um discipulado sem cruz, um pentecoste sem o poder do Espírito Santo.

Mas essa época nos impõe algumas perguntas, as quais exigem respostas coerentes.
Que tipo de cristianismo nós queremos? Um cristianismo que nos deixe de bom astral, mas não nos custe nada? Uma mensagem que não fale de sacrifício, de renúncia, de perdas, só de sucesso? Uma fé indolor, sem sofrimento, que não nos deixe nenhuma marca? Uma existência inodora, sem o bom cheiro de Cristo, para não sermos incômodos?

Isto é preocupante, não somente porque a mensagem cristã está sendo diluída, mas também porque a própria maneira de viver o cristianismo tem sido maculada.

O modo como alguém prega e vive a mensagem do evangelho reflete a qualidade da sua consagração a Cristo. O quanto alguém tem de Jesus depende do quanto de si mesmo entrega a Ele.

Viver com Jesus é um desafio radical: “Quem acha a sua vida perdê-la-á; quem, todavia, perde a vida por minha causa achá-la-á”. Ou seja: se dermos a Ele toda a nossa vida, teremos a vida Dele toda.

Sendo assim, o quanto você vai querer de Jesus?

Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sábado, 3 de abril de 2010

Cristo é a nossa Páscoa

A Páscoa é uma festa religiosa totalmente integrada ao calendário nacional. As motivações de celebrá-la são distintas e também distantes de todo o quadro original de orientação judaico-cristã da festividade. Para muitos, as melhores lembranças são representadas por ovos de chocolate e coelhinhos. Outros enxergam apenas a possibilidade de bons lucros. Alguns circunscrevem a sua importância ao aspecto legalista com verniz religioso em termos da proibição de comer carne vermelha e da obrigação de frequentar alguma igreja.

Para outro grupo de pessoas, porém, a Páscoa representa mais do que religiosidade; representa contrição, arrependimento e gratidão pela obra redentora de Cristo, assim como identifica comunhão íntima com Deus.

No século da informação, contraditoriamente, a maioria das pessoas quase nada sabe sobre a origem da festa e tampouco o seu significado. Por isso, é importante lembrar que a Páscoa, originalmente, foi instituída como festividade símbolo da libertação do povo de Israel do Egito, no evento conhecido como Êxodo.

Antes do ato de libertação, porém, o Senhor ordenou ao seu povo que cada família tomasse um cordeiro de um ano e sem defeito, o sacrificasse e comesse assado, acompanhado de ervas amargosas e pão sem fermento. A obediência traria a proteção divina e favoreceria a sua saída do Egito.

A décima praga (a morte de todos os primogênitos) estava para acontecer. Por isso, eles tinham de passar o sangue do cordeiro nos umbrais e nas vergas das portas, pois quando o anjo da morte percorresse a terra, passaria por cima das casas que tivessem o sinal do sangue e pouparia os seus primogênitos.

É desse evento que advém o termo Páscoa, do hebraico pesah, que significa “passar por cima”, “pular além da marca”, ou “poupar”. E assim, os primogênitos de Israel foram poupados. Depois que o povo de Israel saiu do Egito, Deus ordenou que a Páscoa fosse celebrada continuamente como um memorial dessa libertação.

Os teólogos cristãos são unânimes quanto ao entendimento de que a Páscoa contém um simbolismo profético (como “sombra das coisas futuras”) que apontava para um evento futuro, a Redenção efetuada por Cristo, como está escrito: “Cristo, nossa Páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Co 5.7).

Desse modo, o cordeiro morto (com o seu sangue aspergido nas portas) era símbolo do sacrifício de Cristo na cruz pelos nossos pecados. O cordeiro “sem defeito” prefigurava a impecabilidade de Cristo, que era “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

As ervas amargosas prefiguravam a necessidade de contrição e arrependimento. Como o fermento espiritualmente simboliza a corrupção do pecado, o pão sem fermento indicava a pureza que é requerida de quem serve a Deus. O comer a carne do cordeiro representava a identificação com a Sua morte.

O sacrifício do cordeiro servia de substituto dos primogênitos e prenunciava a morte de Cristo em substituição à nossa. O cumprimento de todo esse ritual identificava a obediência que vem da fé e que resulta na salvação.

A Páscoa teve o seu cumprimento em Cristo. Ele é a nossa Páscoa. Foi durante a Páscoa que o próprio Jesus instituiu a Santa Ceia como lembrança de Sua morte. Celebrada com pão e vinho, que simbolizam o Seu corpo ferido e o Seu sangue derramado na cruz para salvar os pecadores, serviria de lembrança permanente do Seu sacrifício vicário (1 Tm 1.15).

Em suma, a Páscoa simboliza, para judeus e cristãos, três coisas: liberdade da escravidão, salvação da morte e caminhada para a terra prometida. Para os judeus, tinha um sentido físico, pois havia uma escravidão a ser subvertida, uma morte iminente a ser suplantada e uma terra a ser conquistada.

Depois da morte e ressurreição de Jesus ficou o sentido de natureza espiritual, indicando a necessidade de libertação da escravidão do pecado, a salvação da morte eterna, assim como a caminhada na certeza de que o céu onde Cristo habita é o nosso destino final.

Alguns religiosos sinceros celebram a Páscoa com um misto de tristeza e compaixão pela morte de Cristo, como se Ele ainda estivesse no túmulo. Mas a Páscoa deve ser comemorada com alegria, pois aponta para a libertação que a ressurreição de Jesus nos propiciou. Cristo está vivo e ainda ressoam as Suas palavras: “Eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos” (Ap 1.18).

Agora, uma pergunta precisa ser feita: será que Jesus aprova que festejemos a Páscoa e vivamos presos aos mesmos pecados pelos quais Ele morreu?


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