De qualquer modo, em ambos os casos, cada pessoa chamada teve de tratar com algumas questões, do mesmo modo que nós hoje em dia. Uma vez enviado por Deus, como você esperaria ser tratado? Como um diplomata na entrega de suas credenciais? Como alguém importante com um chamado do céu? Reconhecido e honrado por todos?
Como você esperaria se sentir? Alguém importante e confiante, sabendo exatamente para onde está indo e o que deve fazer? Como um “engenheiro” de Deus de posse de uma planta exata do projeto a ser executado?
O que poucos se dão conta num primeiro momento é que nossos primeiros passos no serviço de Deus, mesmo imbuídos da certeza da chamada, poderão ser o fim de nossas esperanças e sonhos, não o começo. Isto porque os começos de Deus para os Seus servos geralmente em nada se parecem com os fins que Ele tem em mente.
Isto está de acordo com o que afirma o próprio Senhor: “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor, porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos” (Is 55.8-9).
Quando os planos de Deus parecem impossíveis de serem compreendidos numa primeira instância, os exemplos das histórias de vários servos do Senhor servem de grande consolo. O que dizer de José, que da prisão foi guindado à posição de governador do Egito? O salmista afirma: “Adiante deles enviou um homem, José, vendido como escravo; cujos pés apertaram com grilhões e a quem puseram em ferros, até cumprir-se a profecia a respeito dele, e tê-lo provado a palavra do Senhor” (Sl 105.17-19).
O apóstolo Paulo, quando chamado, jamais poderia imaginar as grandezas das revelações com que seria contemplado. Ele começou com descrédito da própria Igreja que perseguira, assim como rejeitado e perseguido pelos antigos amigos fariseus. Ainda por cima, o próprio Senhor falou a seu respeito: “Pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16). O que começou em aparente perda foi dando certo, mas tudo lhe foi mostrado passo a passo, nunca de uma só vez.
Tito, enviado a Creta, reclamava-se da indolência e insinceridade beligerante dos cretenses. Estava isolado, sozinho, sem uma equipe treinada, em muitas desvantagens e perigos. Mas Paulo lhe faz saber o sentido de seu chamamento, quando diz: “Por esta causa, te deixei em Creta” (Tt 1.5). Tito ainda não tinha conseguido entender que era exatamente por aqueles motivos incomodantes que ele fora enviado para realizar a sua missão ali. Ele não dispunha de toda a planta do projeto, só tinha de ser fiel e seguir passo a passo.
Destes e de tantos outros exemplos, podemos entender que ser enviado por Deus poderá começar com perdas, não com ganhos: perda de emprego, em vez de conseguir trabalho; perda de reputação, em vez do louvor de outros; perda de apoio de parentes e amigos, em vez de suporte.
Poderá também envolver o enfrentamento de injustiças: ser penalizado, mesmo tendo sido honesto e se recusado a ceder; ser banido pelos próprios irmãos e amigos, mesmo tendo sido fiel a todos; receber a imputação de crimes, embora não os tendo cometido.
Poderá igualmente doer tanto quanto os grilhões de José na prisão; ou como os desprezos e perseguições sofridos por Paulo; ou como o pouco caso que fizeram de Tito.
Se Deus lhe deu um começo difícil, não desista; antes, peça-lhe forças para ir até o fim com humildade, sinceridade de coração e fidelidade ao seu chamamento. E tenha em mente que o Deus que lhe enviou também o amparará até que você cumpra o propósito para o qual foi chamado.
Samuel Câmara - Pastor daAssembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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