Dwight L. Moody era um homem de Deus, cujo labor no evangelho foi tão importante na América e na Europa, a ponto de ter sido chamado de maior evangelista do Século XIX. Sua mensagem teve um impacto tão grande que milhões de pessoas foram transformadas pelo poder de Deus. Sua pregação era caracterizada como simples e direta, franca e sincera, sem enfeites nem rebuscamentos gramaticais, porém enormemente convincente e poderosa em seus efeitos.
Esse mesmo Moody, quando definia a si mesmo, afirmava que se considerava uma “lata furada” e, por isso mesmo, precisava ficar sempre debaixo da “torneira” da graça de Deus, sempre encharcado, pois conhecia os seus próprios limites e escassos recursos pessoais.
Essa é uma estirpe de homens cada vez mais rara, muito embora, de certa forma, todos sejamos “latas furadas”. Mesmo que dotados de excelência cultural e devoção religiosa, jamais teremos suficiência em nós mesmos em face aos desafios espirituais e morais do mundo. Por isso é preciso conjugar aos nossos melhores esforços e capacidades a multiforme graça de Deus disponibilizada gratuitamente a todos.
Podemos inferir que não poucos “latas furadas” estão fora da “torneira” da graça de Deus, o que gera uma inquietante questão a fustigar a mente de muitas pessoas. Estas colocaram a sua confiança em pessoas que outrora serviram a Deus com dignidade e pureza, mas que depois vieram a fracassar; pessoas que começaram bem, mas não souberam como terminar. O que ocorreu, como isso pôde acontecer?
Não é difícil obtermos a resposta, se recorrermos à história de muitos homens de Deus que começaram bem e terminaram de forma admirável. Falemos, pois, de um deles, o apóstolo Paulo. O segredo do seu ministério estava expresso na seguinte sentença: “Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.10).
Assim, Paulo se reconhece dependente da graça que lhe foi dada e identifica que a obra de uma vida, assim como a de um edifício, depende do fundamento que é lançado.
Podemos aprender que as pessoas que fracassam cometem no mínimo dois erros: primeiro, perdem o contato com a graça de Deus e, como latas vazias, só produzem os ruídos de uma vida desajustada.
Segundo, deixam de edificar sobre o fundamento apropriado, Jesus. Alguns deixam de depender de Deus, colocam a sua confiança no dinheiro, no poder e na ostentação, e vêm a perdem a graça ao tentar edificar sobre o fundamento raso de suas próprias vidas.
O fundamento é Jesus, nenhum outro; ele é a Rocha sobre a qual devemos edificar as nossas vidas e a Sua obra; ele nos deixou “o exemplo para que sigamos os seus passos”.
Algumas pessoas são inclinadas a pensar em seus líderes religiosos como super-homens, seres infalíveis e intocáveis, um degrau acima da escala de nossa fugaz humanidade. Talvez isso tenha algo a ver com a mensagem que os líderes pregam, os valores que traduzem, os desafios de excelência que lançam.
Porém, como se vê, são pessoas comuns, sujeitas a erros e desvios, mesmo que portadoras de uma mensagem divina. O que realmente faz a diferença é a graça de Deus. Sem ela, sobram apenas as anomalias do nosso caráter humano decaído e sujeito ao pecado.
Deus concede a todos uma medida da Sua graça, como dádiva (ou favor imerecido), a fim de podermos crer no Senhor Jesus Cristo e vivermos o evangelho com dignidade. Mas alguns têm escolhido resistir à graça de Deus, enquanto outros a recebem em vão; uns a apagam de suas vidas, enquanto outros a abandonam.
Agora, mais do que nunca, vivemos tempos difíceis e, por isso, precisamos entender que somos “latas furadas” que devem caminhar debaixo da graça de Deus.
Quanto a nós, da Assembleia de Deus, que caminhamos “rumo ao Centenário”, precisamos mais ainda de muitas “latas furadas”, não para fazerem “barulho”, mas para se colocarem debaixo da “torneira” da graça de Deus, para produzirem uma obra marcada pela dependência da graça que emana Dele. Só assim, cheios de graça, é bom sermos “latas furadas”.
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