segunda-feira, 20 de julho de 2009

Vida Rasa ou Profunda?

Um agricultor plantou duas árvores da mesma espécie. Uma em solo plano, no meio do terreno, onde suas raízes se aprofundaram na terra em busca de água. A outra, na parte mais baixa de um declive. Quando chovia, a água passava por aquele lugar e escoava para a rua. Ambas as árvores cresceram e pareciam fortes e viçosas.

Foi então que sobreveio um terrível vendaval e assolou as duas árvores. A árvore do meio do terreno permaneceu firme, enquanto a outra tombou.

O agricultou descobriu, finalmente, que os sistemas radiculares eram diferentes. A árvore do meio do terreno possuía raízes profundas, enquanto a outra possuía raízes rasas. Na base do declive, a água passava suavemente na superfície do solo, por isso as raízes não tinham de coletar água em profundidade e permaneceram superficiais. Esse foi o motivo de a árvore não ter suportado a força do vendaval.

Toda árvore geralmente desenvolve suas raízes numa lateralidade rasa e numa verticalidade profunda, pois precisa aproveitar tanto as águas correntes na superfície em tempos de abundância como as águas profundas em tempos de estio e sequidão.

Que a lição espiritual se pode tirar desse exemplo?

O profeta Jeremias descreve a vida profunda de quem “confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor”: “Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto” (Jr 17.7-8).

Quem confia no Senhor tem raízes rasas estendidas “para o ribeiro” em tempos de fartura; assim também “não se perturba, nem deixa de dar fruto” em período de sequidão, pois suas raízes são profundas.

O problema da árvore com raízes rasas é que ela se “acomodou” diante de tanta abundância e descuidou-se da firmeza necessária para enfrentar as intempéries.

Quantos cristãos têm a vida espiritual rasa por estarem procedendo como a árvore acomodada? Como identificar, então, o cristão raso e diferençá-lo do profundo?

Ora, o cristão raso vive pulando de igreja em igreja, numa procura sem fim da que é “mais forte” para receber suas bênçãos. Para ele, seguir o Evangelho é ter seus sonhos realizados, os pedidos atendidos, as vontades expressas em decretos e ordens inconsequentes a um “Deus” domesticado e pronto para atender-lhe os caprichos.

O cristão raso não entende o conceito de graça, pois vive por obras e barganhas; também não dá graças em tudo, pois quando não consegue imediatamente o que quer, sua oração não passa de mera reclamação. Quer um Deus de bênção, não de disciplina; prefere o caminho largo dos modismos espiritualistas (que não lhes custa nada, senão uns trocados) ao caminho estreito da salvação (que lhes demanda o alto preço de uma entrega total).

O cristão raso participa dos cultos apenas para receber bênçãos, não para expressar a sua adoração e amor a Deus; não procura conhecer a Deus para ter intimidade com Ele. Quer bênçãos financeiras, mas geralmente usa dízimos e ofertas para barganhar com Deus, não para abençoar a Obra.

O cristão raso quer cura e libertação, mas não tem uma vida regrada, não foge da promiscuidade; antes, se entrega a todo tipo de prazer e vícios. Quer ser perdoado, mas nem sempre libera o necessário perdão para ser liberto; antes, guarda mágoas e ódio contra seus irmãos em Cristo. Pede livramentos, mas não vive de forma correta; antes, se expõe desnecessariamente ao perigo. Dá livre curso às suas ambições materialistas a fim de acumular tesouros na terra, mas não acumula tesouros no céu, nem prioriza os valores espirituais e eternos.
Não tem nada de errado em buscar as bênçãos de Deus. Muitas pessoas se chegam a Deus em busca de cura, libertação, livramento etc., e devem fazê-lo livremente. Não podemos censurar as pessoas por buscarem algo sobrenatural que lhes traga melhoria de vida, se elas crêem no poder de Deus e esperam receber as bênçãos de que precisam.

O problema é a rasidão da vida espiritual que pode resultar da acomodação dessa experiência.

O cristão profundo, todavia, “é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido” (Sl 1.3).

Portanto, não se acomode; viva com profundidade!

Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" - http://www.oliberal.com.br/