A
miopia é uma deficiência da visão, quando os raios luminosos que entram nos
olhos são levados a um foco aquém da retina, causando borrões nas imagens,
principalmente as mais distantes. Mas, filosoficamente falando, miopia moral
identifica uma estreiteza de visão que não consegue ver o mal que o mal faz,
assim como a falta de perspicácia (agudeza de espírito) para identificar e
condenar esse mesmo mal.
O
fascínio humano por notícias ruins e escândalos ruidosos explorados pela mídia,
assim como por filmes, novelas e programas que expõem as mais ignominiosas
mazelas humanas, pode até servir para identificar um autêntico desejo de
informação ou entretenimento, mas serve para revelar, igualmente, essa miopia
moral de que está acometida a nossa sociedade.
Certamente,
em razão dessa fascinação, por exemplo, a mídia televisiva ofereça os mais
variados “cardápios”, desde as indigestas baboseiras explícitas dos reality
shows até as apelativas novelas e filmes, tudo recheado dos mais variados
pecados. Para obter a nossa atenção, as chamadas desses programas geralmente
invocam o que de mais vil existe na natureza humana, o que inclui: violência,
intriga, prostituição, incesto, ódio, traição, imoralidade de toda sorte e
inomináveis desvios de conduta no seio da família, pelo simples fato dessas
sujidades morais possibilitarem enormes picos de audiência.
As
pessoas, sem se darem conta de que o pecado encravou as garras nas entranhas do
seu ser, acabam torcendo para que uma garota de programa destrua um casamento,
torcem para que o bandido não seja pego pelas malhas da lei, desejam a morte de
uma pessoa correta só porque parece “careta”, almejam estar na posição de um
político corrupto ou de um rico mau-caráter, admiram o poder sedutor de um
irresponsável, louvam a coragem de um canalha, almejam o sucesso de um belo e
irresistível criminoso que costuma se dar bem, entre outros obscuros desejos.
No
entanto, nossa capacidade intrínseca de dissimulação em relação ao mal tem o
seu preço. Primeiro, pode nos tolher a capacidade de indignação. Quando não
esboçarmos sequer o menor sinal de tédio ou de revolta quando o mal está
aparentemente fora do nosso alcance, só porque não nos atinge diretamente,
corremos o risco de deixar de desejar e buscar o que é certo. Assim, passamos
involuntariamente a aplaudir o que é errado, quando o espectro do mal sai do
terreno da ficção e invade o campo da realidade em nossa volta.
Segundo,
pode nos tornar egoístas, prisioneiros de nós mesmos, envolvendo-nos em um
casulo existencial que nos conforma com os nossos interesses pessoais em
detrimento do bem público. Possivelmente advém dessa vertente moralmente míope
a nossa cultura do “jeitinho brasileiro” com toda a sua ética canhestra de
“levar vantagem” em tudo.
Terceiro,
pode nos tornar reféns da desesperança, pois o mal é banalizado e a injustiça
reduz a vida a estereótipos de esperteza e sagacidade.
Além
de indicarem uma elevada miopia moral, essas reações mostram a dura realidade
de que a nossa tessitura espiritual está seriamente comprometida.
Logicamente,
o problema não é primariamente a mídia e sua produção “cultural” apodrecida,
pois esta tão somente se alimenta do nosso latente desejo de consumi-la e
representa apenas um dado a mais no mostruário das indignidades humanas.
O
problema principal é a nossa natureza essencialmente comprometida com o pecado
e a injustiça que dele resulta. O nível de comprometimento com o pecado
identifica o grau de miopia moral em qualquer outra área que se pense.
A
miopia moral faz com as pessoas optem por escolhas erradas. Quanto a isso,
aconteceu um fato pitoresco em relação a Jesus. Os líderes sabiam que Ele era o
Messias, que viera para salvar os pecadores e instaurar o Reino de Deus; sabiam
que tinham de proceder corretamente, mas preferiram corresponder ao que lhes
favorecia em “sua” religião. “Muitos dentre as próprias autoridades creram
nele, mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da
sinagoga; porque amaram mais a glória dos homens, do que a glória de Deus” (Jo
12.43).
De
modo semelhante, a maioria de nós sabe o que é certo e como proceder
corretamente. Mas prefere a opção de menor resistência, como refém da lei do
menor esforço, fazendo o mínimo necessário e não o máximo possível.
É
claro que o mal não vai prevalecer sempre. É óbvio também que ainda há uma
reserva moral que não deixa este país apodrecer. O capítulo final da História,
descrito na Bíblia, mostra que o mal será subvertido, pois Jesus e seus
seguidores vão finalmente reinar em um mundo de justiça e paz.
Todavia,
enquanto isso não vem, cada um de nós precisa corrigir sua miopia moral com as
“lentes” da Palavra de Deus, tomando uma inequívoca posição de fazer o bem, ao
receber iluminação e poder do Alto para viver uma vida irrepreensível e justa
diante de Deus e do mundo.
Feliz
Ano Novo, mas sem Miopia Moral.
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