Para ilustrar um de seus sermões, o missionário Hudson Taylor, pioneiro na China, encheu um copo com água e o colocou sobre uma mesa que lhe servia de púlpito. Enquanto falava, bateu com o punho na mesa, com força suficiente para que a água se derramasse na mesa. Em seguida, ele explicou: “Vocês passarão por muitos problemas. Quando acontecer, porém, lembrem-se: somente o que há dentro de vocês será lançado para fora”.
Em um mundo acossado por injustiças, vale a pena pensar no modo como respondemos às diversas situações que nos confrontam diariamente. Quando somos incompreendidos ou maltratados, como reagimos? Respondemos com palavras amáveis, paciência e bondade, ou somos inclinados a retaliar?
Os próprios discípulos de Jesus foram testados diante do Mestre quanto a isso. E dois deles não passaram no teste.
Jesus estava a caminho de Jerusalém e tinha de passar por uma aldeia de samaritanos, porém, não quiseram recebê-lo. Isso era uma afronta sem tamanho. Como não receber o Filho de Deus, que só tinha feito o bem a todos?
O que eles mereciam? Os discípulos Tiago e João achavam que eles deveriam ser severamente punidos, e disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?”
“Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia” (Lc 9.54-56).
Se Deus tivesse de atender a todo tipo de oração, algumas delas iradas e recheadas de clamor por “justiça” (que pode ser um mero desejo egoísta de ver o outro sucumbir numa “merecida” punição) como seria? E se Deus nos tratasse do mesmo jeito quando erramos?
Para Jesus, o que valia não era o que os samaritanos mereciam, mas sim o que Ele era: Salvador, não destruidor. Estava evidente que o caminho mais fácil nem sempre é o menos custoso. E Jesus ensina que não são as atitudes erradas das pessoas que devem determinar como devemos proceder, mas sim o que fomos chamados para ser e realizar.
Temos de nos manter fiéis ao que somos e, a partir disso, glorificar o nome do Senhor na terra com o que fazemos. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).
Assim, que valores trazemos no coração? Em uma parábola, Jesus explicitou: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).
Jesus também ensinou que “pelo fruto se conhece a árvore”, de modo que “não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mt 7.18). A sabedoria popular expressa essa mesma verdade de outro modo: “Ninguém pode dar o que não tem, nem mais do que tem”.
Tiago, irmão do Senhor, ensina que devemos ter cuidado com o que falamos, principalmente em momentos de indignação. Se num momento “bendizemos ao Senhor e Pai” e noutro “amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”, isso é uma total inconveniência, pois indicamos que “de uma só boca procede bênção e maldição”.
“Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce. Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tg 3.5-13).
Quem passou pela experiência do novo nascimento deve abandonar as práticas antigas, pois agora é uma nova criatura; foi criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade, para viver de modo digno de Deus, a fim de que o Senhor seja glorificado em todo o seu proceder. (Ef 4.22-24)
Quando vierem as provações, é possível deixar que o Espírito Santo controle a raiva e a frustração, e faça brotar de nós paciência e bondade. Como um copo cheio de água, aquilo que temos em nosso interior será colocado para fora. E então saberemos que vale o que tem dentro.
Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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