sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vale o que tem dentro

Para ilustrar um de seus sermões, o missionário Hudson Taylor, pioneiro na China, encheu um copo com água e o colocou sobre uma mesa que lhe servia de púlpito. Enquanto falava, bateu com o punho na mesa, com força suficiente para que a água se derramasse na mesa. Em seguida, ele explicou: “Vocês passarão por muitos problemas. Quando acontecer, porém, lembrem-se: somente o que há dentro de vocês será lançado para fora”.

Em um mundo acossado por injustiças, vale a pena pensar no modo como respondemos às diversas situações que nos confrontam diariamente. Quando somos incompreendidos ou maltratados, como reagimos? Respondemos com palavras amáveis, paciência e bondade, ou somos inclinados a retaliar?

Os próprios discípulos de Jesus foram testados diante do Mestre quanto a isso. E dois deles não passaram no teste.

Jesus estava a caminho de Jerusalém e tinha de passar por uma aldeia de samaritanos, porém, não quiseram recebê-lo. Isso era uma afronta sem tamanho. Como não receber o Filho de Deus, que só tinha feito o bem a todos?

O que eles mereciam? Os discípulos Tiago e João achavam que eles deveriam ser severamente punidos, e disseram: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir?”

“Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E seguiram para outra aldeia” (Lc 9.54-56).

Se Deus tivesse de atender a todo tipo de oração, algumas delas iradas e recheadas de clamor por “justiça” (que pode ser um mero desejo egoísta de ver o outro sucumbir numa “merecida” punição) como seria? E se Deus nos tratasse do mesmo jeito quando erramos?

Para Jesus, o que valia não era o que os samaritanos mereciam, mas sim o que Ele era: Salvador, não destruidor. Estava evidente que o caminho mais fácil nem sempre é o menos custoso. E Jesus ensina que não são as atitudes erradas das pessoas que devem determinar como devemos proceder, mas sim o que fomos chamados para ser e realizar.

Temos de nos manter fiéis ao que somos e, a partir disso, glorificar o nome do Senhor na terra com o que fazemos. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).

Assim, que valores trazemos no coração? Em uma parábola, Jesus explicitou: “O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lc 6.45).

Jesus também ensinou que “pelo fruto se conhece a árvore”, de modo que “não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mt 7.18). A sabedoria popular expressa essa mesma verdade de outro modo: “Ninguém pode dar o que não tem, nem mais do que tem”.

Tiago, irmão do Senhor, ensina que devemos ter cuidado com o que falamos, principalmente em momentos de indignação. Se num momento “bendizemos ao Senhor e Pai” e noutro “amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus”, isso é uma total inconveniência, pois indicamos que “de uma só boca procede bênção e maldição”.

“Acaso, pode a fonte jorrar do mesmo lugar o que é doce e o que é amargoso? Acaso, meus irmãos, pode a figueira produzir azeitonas ou a videira, figos? Tampouco fonte de água salgada pode dar água doce. Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tg 3.5-13).

Quem passou pela experiência do novo nascimento deve abandonar as práticas antigas, pois agora é uma nova criatura; foi criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade, para viver de modo digno de Deus, a fim de que o Senhor seja glorificado em todo o seu proceder. (Ef 4.22-24)

Quando vierem as provações, é possível deixar que o Espírito Santo controle a raiva e a frustração, e faça brotar de nós paciência e bondade. Como um copo cheio de água, aquilo que temos em nosso interior será colocado para fora. E então saberemos que vale o que tem dentro.
Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Nada menos que o melhor

O evangelista D. L. Moody contou a história de um homem que estava cruzando o Atlântico de navio, mas, como se sentira terrivelmente enjoado, recolheu-se em sua cabina. Durante a noite, o homem ouviu um grito: "Homem ao mar!" Mas achou que não poderia fazer nada para ajudar. Depois, disse para si mesmo: "Bem, eu posso pelo menos colocar a minha lanterna na vigia". Então, ele se esforçou para ficar em pé, agarrou a lanterna e colocou-a na vigia para iluminar a escuridão do mar à sua frente.

No dia seguinte, ele soube que a pessoa resgatada testemunhara: "Naquela escuridão, eu estava afundando pela última vez, quando alguém colocou uma lanterna na vigia. Quando a luz brilhou sobre minha mão, um marinheiro no bote agarrou-a e puxou-me para cima, são e salvo".

Uma simples lanterna usada na hora certa produziu a ajuda de que necessitava o desesperado homem. Assim também, não importa quão pequena possa parecer a sua habilidade, se bem utilizada, pode ajudar a cumprir o propósito de Deus na terra.

Se cada um usar o melhor de si, mesmo que a sua habilidade (dom ou talento) pareça insignificante, poderá ser instrumento de bênção para quantos necessitam do Salvador.

Moisés tinha apenas um bordão, provavelmente feito de um galho seco de uma árvore qualquer. Mas foi esse cajado que ele, em nome do Senhor, levantou para que o Mar Vermelho se abrisse, e o povo de Deus passou a pé enxuto. Quando o povo sentiu uma incontrolável sede, foi com esse bordão que Moisés feriu a rocha em Refidim, e dela saiu água para saciar uma população inteira em pleno deserto. (Ex 14.16; 17.6)

O jovem Davi tinha apenas uma simples funda (rudimentar atiradeira de pedras), quando se dispôs a enfrentar o gigante Golias perante os exércitos dos filisteus e dos israelitas. Davi partiu para o gigante e, em nome do Senhor, lhe atirou uma pedra que o derrubou e selou a sorte da batalha. Foi esse pequeno instrumento que Deus utilizou para envergonhar uma nação inteira e dar a vitória ao Seu povo. (1 Sm 17.49)

Jesus tinha uma grande multidão diante de Si, mas a hora estava adiantada e não havia como alimentar a todas as pessoas. Na verdade, havia apenas dois peixes e cinco pães oferecidos por um garoto. Nas mãos daquele jovem, ou nas minhas mãos, cinco pães e dois peixes talvez produzissem apenas alguns sanduíches. Mas, nas mãos de Jesus, foram poderosamente multiplicados e alimentaram milhares.

A lição que aprendemos é esta: dê o melhor que tem para o Senhor, embora pareça insignificante, e Ele usará isto para a Sua glória. Não esconda o dom que Deus lhe deu, não retraia de abençoar as pessoas com o talento que possui. Antes, coloque-o nas mãos de Deus, faça o seu melhor, e o Senhor abençoará o seu intento.

Foi o que fez Maria, de Betânia. Jesus estava na casa de Simão, quando ela trouxe um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o vaso, derramou o bálsamo sobre a cabeça de Jesus. Alguns se indignaram, pois acharam que era um desperdício, pois se tratava de um perfume valioso (cujo custo importava em mais de 300 dias de trabalho); e murmuravam contra ela.

Mas Jesus disse: "Deixai-a; por que a molestais? Ela praticou boa ação para comigo". E acrescentou: "Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua". (Mc 14.3-9)

Maria deu o melhor que tinha para Jesus e ganhou um reconhecimento mundial que dinheiro nenhum compraria; e, ainda por cima, com a honra de ter ungido Jesus para a sua morte vicária. Que grande privilégio!

Jamais ofereça a Deus nada menos que o seu melhor, mesmo que aos olhos humanos possa parecer insignificante. Pois o valor do que você coloca nas mãos de Deus é decorrente da sua atitude. Uma atitude generosa faz toda a diferença e move a mão de Deus para abençoar a muitos.

Você está oferecendo o seu melhor para Deus?

Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ligados em Deus

Em maio de 1998, uma falha num processador a bordo do satélite de comunicação Galaxy IV fez com que ele saísse de posição e se afastasse da Terra. Num instante, centenas de empresas, estações de Rádio e de TV foram afetadas; 40 milhões de aparelhos pagers também se tornaram obsoletos, simples pedaços de plástico sem nenhuma utilidade - tudo porque um satélite pegou um caminho errado, se afastou de sua função.

Isso nos faz pensar: Quantas pessoas seriam afetadas se alguém (eu ou você) se afastasse de Deus? E ainda, o quanto nós mesmos seríamos afetados por nos afastarmos de Deus?

Jamais devemos nos esquecer que Deus nos fez de um modo especialmente único, como se tivesse jogado a forma fora. Ninguém jamais será igual ao outro. E o que cada um de nós é na vida só tem um real sentido se estiver em conexão com Deus.

Assim, cada um de nós precisa se perguntar: Que valores há "por dentro" de minha vida? Sou o que realmente sou, ou apenas tento ser o que não sou? Estou valorizando coisas mais do que a mim mesmo, ou mais do que as pessoas ao meu redor? O que revelam as minhas prioridades na vida?

Jesus falou a respeito de um agricultor que pensava ter uma boa vida, mas que, no fim das contas, estava redondamente enganado sobre as reais prioridades da vida. O seu campo produzira com abundância, o que era uma bênção. Ele pensou em derrubar os celeiros antigos e construir outros novos e maiores ainda, para recolher todo o produto de sua grande colheita.

Tudo parecia perfeito. Então, ele disse a si mesmo: "Tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e regala-te". Mas Deus lhe disse: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?". Jesus acrescentou: "Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus" (Lc 12.16).

A mensagem de Jesus era clara: quem se afasta de Deus e coloca suas prioridades em coisas está tramando contra a própria vida, contra o próprio futuro. Ele não estava falando contra alguém possuir bens, mas contra a coisificação da vida, quando a supervalorização do que se tem substitui o real valor do que se é. Afinal, o que é guardado em celeiros, ou bancos, nada pode fazer por nossas almas.

Em uma sociedade acostumada com a inversão de valores a respeito do real significado do "ter" e do "ser", e do peso que estes conceitos têm na vida, não são poucos os que medem o seu valor (e o dos outros) pelo meramente aparente, pela exterioridade latente.

A citação de Jesus da realidade inefável da morte tem o condão de confirmar o fato de que, para alguns, é necessário a cena desagradável e chocante de um velório para demonstrar que "as coisas que se vêem são temporais, mas as coisas que se não vêem são eternas" (2 Co 4.18).

É inegável que cada vez mais as pessoas carecem de sentido na vida, têm fome de significado na sua existência vazia. Alguns vivem sempre em busca de honrarias, tentando a todo custo ser celebridades.

Quem desconhece que o valor pessoal que realmente conta é "o que há por dentro", também não percebe que a celebridade que vale a pena é a "lá de cima", ou seja, conhecer a Deus e ser conhecido por Ele e permanecer ligado com Ele na vida e na morte.

Afinal, quem realmente vive segundo os valores espirituais e coloca toda a sua esperança em Deus é que será reconhecido e convidado a viver a inefável e eterna glória celestial.

Estar ligado em Deus é o maior bem e traz os maiores benefícios. Por exemplo:

Nova vida: "Se alguém está (ligado) em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas" (2 Co 5.17).

Libertação: "Se vós permanecerdes (ligados) na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8.31-32).

Resposta de oração: "Se permanecerdes (ligados) em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito" (Jo 15.7).

Realização pessoal: "Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes (ligados) em mim" (Jo 15.4).

O melhor da vida está em Deus. Fique ligado!


Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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domingo, 9 de agosto de 2009

Herança dos Pais aos Filhos

Certa vez, um menino de quatro anos chegou-se para o pai e fez a seguinte afirmação: "Papai, quando eu crescer, quero ser como o senhor". Qual pai nunca passou por uma situação semelhante? Alguns não ligam. Outros se importam. E devem.

Foi o caso daquele pai. Naquele momento, ele estremeceu e se pôs a meditar sobre o tipo de pai que estava sendo e o exemplo que estava passando aos próprios filhos. Ele então comentou: "Desde que ouvi esta frase fiquei mais atento, para não dar exemplos de mera aparência, mas sinceros e consistentes, para que possam ser seguidos pelos meus filhos".

Uma boa referência para ajudar nessa avaliação é lembrar-se de seu próprio pai, do exemplo que foi na vida, da influência que deixou. Bem ou mal, cada um de nós traz as marcas do pai e, não poucas vezes, as reflete no decorrer da vida. Isso é tão importante que a própria relação entre uma pessoa e Deus, o Pai celestial, pode ser afetada, positiva ou negativamente, a partir da realidade benéfica ou maléfica que é recebida como herança dos pais terrenos.

No Dia dos Pais, portanto, é bom que cada pai indague-se a si próprio: Que modelo eu sou para os meus filhos?

A resposta pode ajudar a determinar o legado que deixaremos aos nossos filhos, além de antecipar os tipos de filhos que legaremos ao mundo. O bom exemplo - falar a verdade, viver com fidelidade, andar em integridade - é um dos maiores legados que um pai pode deixar aos filhos.

Infelizmente, não poucos pais têm transferido exclusivamente a outros (ao estado ou à escola, por exemplo) a formação moral e ética de seus filhos. Mas isto é um engano de custo altíssimo e de resultado duvidoso.

A Bíblia oferece a seguinte orientação: "Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele" (Pv 22.6).

Não basta apontar o caminho, é preciso andar com o filho "no caminho", ou seja, dando o exemplo e vivendo e ensinando os valores morais e espirituais.

Lembro-me da história de um menino de doze anos que foi uma testemunha chave num processo judicial. Um dos advogados, depois de interrogá-lo longamente, perguntou: "Seu pai lhe disse o que responder, não foi?". O garoto respondeu: "Sim!"

"Então nos diga, por favor, quais foram essas instruções?" - insistiu o advogado. O menino replicou: "Bem, papai me disse que os advogados iriam tentar me embaraçar; mas se eu fosse cuidadoso e falasse apenas a verdade, não iria cair em contradição".

Além do moral dessa história - uma pessoa que fala a verdade não tem nada a esconder, mas a mentirosa paga um preço alto por sua desonestidade - há o indefectível exemplo de um pai que optou por ensinar o seu filho a andar no caminho da verdade. Não só porque uma mentira exige outra para encobri-la, e no final o mentiroso é apanhado em sua própria teia de engano, mas porque é a coisa certa a ser feita.

Meus pais me ensinaram a falar sempre a verdade, e nunca mentir, a despeito de quão doloroso ou difícil pudesse ser. Esse é o mesmo modelo que ensinei a meus filhos.

Infelizmente, alguns pais teimam em oferecer exemplos danosos aos filhos, cuja herança fatalmente cobrará um alto preço.

Pense no atual cenário político nacional, com o Governo repetidamente envolto em graves denúncias de corrupção, com o Congresso desmoralizado por causa dos maus políticos. Não é preocupante o dano que isso causa aos jovens filhos dessa Pátria? O que dizer dos descendentes das pessoas envolvidas nos escândalos? Quando a conta dessa herança será apresentada à sociedade por aqueles que só aprenderam o desvalor de levar vantagem em tudo e a qualquer preço?

O pai tem que pensar no preço de um bom ou de um mau exemplo, pois são seus filhos que conviverão com as conseqüências; são eles os principais candidatos à reprodução dos comportamentos de seus pais.

Cada pai deveria pedir a ajuda de Deus, o Pai, para ser o melhor exemplo para seus filhos. Assim, a oração de cada pai deveria ter este cerne: "Ajuda-me, meu Pai, a ser aquele homem que eu desejo que o meu filho um dia se transforme".


Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Quando Deus se esquece

Conta-se que numa grande cidade uma mulher, conhecida por sua espiritualidade, estava tendo visões de Jesus. Os relatos chegaram ao bispo, que decidiu verificar. Ele sabia que existe sempre uma linha tênue entre o místico autêntico e a extremidade fanática.

“É verdade que a senhora tem visões de Jesus?” — perguntou o bispo.

“É verdade” — respondeu a mulher.

“Então, na próxima vez que a senhora tiver uma visão, quero que peça a Jesus que lhe conte os pecados confessados na minha última confissão.”

A mulher ficou perplexa. “Estou ouvindo direito, bispo? O senhor quer mesmo que eu peça a Jesus que me conte os seus pecados?”

“Exatamente. Por favor, ligue-me se alguma coisa acontecer.”

Dias depois, a mulher informou o bispo da aparição mais recente. Quando o bispo chegou, olhou-a nos olhos e disse: “A senhora acaba de me dizer ao telefone que teve uma visão de Jesus. A senhora fez o que pedi?”

“Sim, bispo, pedi a Jesus que me contasse os pecados que o senhor confessou na sua última confissão.”

O bispo inclinou-se para frente, na expectativa, e perguntou: “O que Jesus disse?”

Ela olhou fundo nos seus olhos: “Bispo, essas são as exatas palavras dele: EU NÃO ME LEMBRO”.

De fato, o verdadeiro cristianismo acontece quando homens e mulheres aceitam com inabalável confiança que seus pecados não apenas foram perdoados, mas totalmente esquecidos; suas almas foram completamente lavadas no sangue do Cordeiro. “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).

O profeta Jeremias, seis séculos antes de Cristo, profetizou sobre esse “esquecimento” de Deus: “Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor. Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jr 31.34).

Mas, tragicamente, alguns recusam-se a acreditar que Deus possa perdoá-los: “Meu pecado é grande demais” — afirmam.

Esquecem-se que a obra realizada por Jesus foi definitiva e completa: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.4-5).

Isso é prova de amor: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).

Todavia, alguns cristãos jamais se sentem perdoados. Parecem precisar do sentimento de culpa para se sentirem vivos, experimentando a auto-punição ostensiva como sinal de espiritualidade.

Há aqueles que, com frequência, pensam em um “Deus” imprevisível e capaz de toda espécie de preconceito. Teimam em lembrar o que Deus já esqueceu. Por isso se sentem compelidos a se envolverem em alguma espécie de mágica para aplacá-lo. Para estes, o simples fato de frequentarem uma Igreja parece tornar-se um “seguro” supersticioso contra os caprichos divinos.

Por outro lado, há quem pense em Deus como uma força cósmica e impessoal, mas tudo o que conseguem é uma religião evasiva e vazia.

Como a nossa visão de Deus molda nossa vida em grande parte, talvez seja por isso que a Escritura atribua tanta importância em buscarmos conhecer a Deus pessoalmente. Quem conhece a Deus e passa pela experiência do novo nascimento pode finalmente sentir-se e saber-se totalmente perdoado.

Lembro da história de um jovem que, outrora problemático, entregara sua vida a Cristo e passara a viver corretamente. Com frequência, falava expressões de louvor. Seus pais, preocupados, o levaram no psicólogo, para saberem se ele estava com algum problema. No consultório, só deixaram expostas as revistas de cunho científico, nada religioso. O jovem folheava uma delas, que falava sobre as fossas Marianas, localizada no Oceano Pacífico, o local mais profundo dos oceanos. De repente, o jovem gritou: Aleluia! Aleluia!

O psicólogo foi rápido ao seu encontro e quis saber o porquê de sua alegria. O jovem disse: “Doutor, aqui está dito que o lugar mais profundo dos mares tem 11.034 metros de profundidade. Deus disse que teria compaixão de nós; pisaria as nossas iniqüidades e lançaria “todos os nossos pecados nas profundezas do mar” (Mq 7.19).”

“Aleluia. Foi lá que Deus lançou os meus pecados para nunca mais se lembrar deles!”

Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -
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