sábado, 29 de outubro de 2011

Quando o cemitério traz boas notícias

No romance “O Porto”, Ernest Poole coloca na boca de um personagem o comentário contundente: “A história é apenas um noticiário do cemitério”. Ele lembrava que há uma grande e inconteste tristeza em todos os cemitérios, expressa em incontáveis lápides e suas silenciosas mensagens de morte e separação. Desse contexto, brota sempre a pergunta: que boa notícia traz um cemitério?

Há, sim, uma grande e inconteste exceção à tristeza de todos os cemitérios: a alvissareira notícia do túmulo onde Jesus foi sepultado, proclamada pelos anjos às mulheres: “Por que buscais entre os mortos ao que vive?”; e também: “Ele ressuscitou, não está mais aqui”. Ali, ao vencer a morte, Jesus abriu definitivamente para nós o portal da vida eterna. Mas essa notícia, de tão eletrizante, nem sempre é acatada sem contestação.

Conta-se que Lord Lyttelton, parlamentar e homem de letras, cujo nome aparecia em todos os importantes debates no parlamento britânico do século retrasado, e que mantinha o ofício de ministro das finanças, e seu amigo advogado, Gilbert West, estavam ambos convencidos de que a fé cristã era uma fraude, e resolveram desmascará‑la.

Como objetos de sua pesquisa hostil, Lyttelton escolheu a conversão de Paulo, e West, a ressurreição de Cristo, dois pontos decisivos do Cristianismo. Eles formularam quatro proposições que consideravam esgotar todas as possibilidades do caso: ou Paulo era um impostor que disse o que ele sabia ser falso; ou era um fanático que impôs a si mesmo a força de uma imaginação superaquecida; ou foi enganado pela fraude de outros; ou o que declarava ser a causa de sua conversão realmente aconteceu e, portanto, a fé cristã provém de uma revelação divina.

Eles realizaram seus estudos com sinceridade, embora cheios de preconceitos. As pesquisas foram feitas separadamente e por um período considerável. Quando se encontraram para confrontar as provas e exultar‑se na revelação de mais uma “impostura”, conforme combinado, ambos estavam convictos, porém, que eram impotentes para desacreditar o relato bíblico.

Desses e de outros argumentos, deduziram três conclusões finais: Paulo não era um impostor a narrar uma história forjada acerca de sua conversão; se o fosse, ele não teria tido êxito; a ressurreição de Cristo foi um milagre, realmente aconteceu, e Jesus está vivo para sempre.

Quando eles se reuniram, afinal, foi para regozijar‑se na descoberta de que a fé cristã era, de fato, baseada na boa nova da ressurreição de Jesus e que a Bíblia era a Palavra de Deus. Isso resultou na conversão de ambos a Cristo.

Portanto, a melhor notícia que um cemitério já testemunhou é também o fundamento da fé cristã: um túmulo vazio! Assim, a pedra angular do evangelho é a tumba sem um corpo nela, naquela gloriosa manhã da ressurreição.

O cético francês Ernest Renan involuntariamente testemunhou sobre a poderosa verdade da ressurreição, ao zombar: “O Cristianismo vive da fragrância de um franco vazio”. Mais precisamente, a fé cristã vive sustentada nos pilares da graça salvadora de Jesus ressuscitado. Ele realmente quebrou as cadeias da morte e deixou vazio o sepulcro, sendo essa a boa notícia que tem sido, desde então, sustentada e proclamada por todos os seguidores de Cristo.

Nos cemitérios, podemos pensar na dor de muitas pessoas, na angustiante separação que sofreram, nos destinos que foram mudados. Mas também podemos pensar no túmulo vazio de Jesus Cristo e na gloriosa esperança que isso traduz, de que um dia os túmulos dos que Nele creem também serão abertos e que iremos experimentar o mesmo poder de Sua ressurreição.

Foi essa certeza que levou Paulo a declarar: “Nem todos vamos morrer, mas todos nós vamos ser transformados, num instante, num abrir e fechar de olhos, quando tocar a última trombeta. Ela tocará, os mortos ressuscitarão como seres imortais, e todos nós seremos transformados. Pois este corpo mortal precisa se vestir com o que é imortal; este corpo que vai morrer precisa se vestir com o que não pode morrer. Assim, quando este corpo mortal se vestir com o que é imortal, quando este corpo que morre se vestir com o que não pode morrer, então acontecerá o que as Escrituras Sagradas dizem: A morte está destruída! A vitória é completa! Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu poder de ferir?... Mas agradeçamos a Deus, que nos dá a vitória por meio do nosso Senhor Jesus Cristo!” (1 Co 15.54-57).

Na próxima vez que você for a um cemitério, lembre-se da boa notícia: a morte não é o fim, ela foi vencida por Jesus! Mas você precisa estar do lado certo quando Deus fizer o ajuste de contas.


Samuel Câmara

Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sábado, 22 de outubro de 2011

Os fundamentos de uma fé inabalável

Não foi sem propósito que Jesus comparou a fé cristã a uma casa edificada sobre a rocha: quanto mais firme o fundamento, mais elevada e inabalável será. Por isso, algumas vezes, penso na razão da fé cristã ter conseguido sobreviver, a despeito das muitas perseguições ferozes e insanas a que foi submetida ao longo da história. Adicione-se o fato de que, diferentemente das demais, ela é única no tratamento do pecado, chamando-o pelo nome e expondo suas entranhas perniciosas, além de responsabilizar seus praticantes.

Cristãos do primeiro século foram lançados às feras pelos imperadores romanos. Como diz a Bíblia: “Alguns foram torturados... outros, por sua vez, passaram pela prova de escárnios e açoites, sim, até de algemas e prisões. Foram apedrejados, provados, serrados pelo meio, mortos a fio de espada; andaram peregrinos... necessitados, afligidos, maltratados (homens dos quais o mundo não era digno)...” (Hb 11.35-38). A opção de viver em santidade em meio a um mundo pecaminoso, os tornou ainda mais odiados. Mas sua fé era inabalável.

Isso, por si só, já poderia identificar uma completa falta de atrativos à vida de fé. Porém as adversidades implacáveis não têm impedido que milhões de pessoas amem a Jesus e sigam os Seus passos, mesmo que lhes sobrevenham ferozes perseguições, ou apenas digam não aos “normais” prazeres pecaminosos do mundo.
Se alguém quiser supor, mesmo por um instante, que o cristianismo não seja verdadeiro, deveria obrigar-se a pensar também por que alguém sofreria ou seria morto por causa da fé, se tudo isso fosse uma mentira!

Podemos considerar duas razões para ajudar a explicar esse fenômeno. A primeira razão que evidencia a fé cristã como verdadeira é a ressurreição de Jesus dentre os mortos, evento sobre o qual existe forte e incontestável evidência histórica. Sob essa realidade, a igreja pode viver aqui e agora centrada na esperança vindoura. Como contrapôs Paulo, se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens (1 Co 15.19).

A segunda razão é o vaticínio de Jesus: “Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). A igreja pertence a Jesus, Seu edificador. A igreja está sendo edificada sobre fundamentos que não podem ser abalados. Nem mesmo as portas do inferno, em suas múltiplas formas (perseguições diretas, privações, infâmias, mentiras, morte, armadilhas perniciosas do pecado etc.), são páreo para essa obra que Jesus realiza pelo Seu eterno poder.

Igualmente, a fé cristã está alicerçada sobre profecias messiânicas que tiveram o seu cabal cumprimento. No Antigo Testamento, há mais de duas mil profecias já cumpridas, o que mostra a singularidade das Sagradas Escrituras. Nenhum outro livro de qualquer religião nem vagamente se assemelha a isto, pois não contêm previsões proféticas específicas.

A Bíblia não tem paralelo no campo profético, exatamente porque os homens que a escreveram foram divinamente inspirados pelo Espírito de Deus (2 Pe 1.20,21). Há 333 profecias relativas à vinda de Cristo somente no Antigo Testamento, as quais foram escritas entre cerca de 1500 a.C. e 400 a.C. Dá para imaginar como teria sido difícil inventar algo assim?!

Vejamos, portanto, algumas delas. Foi profetizado que Jesus nasceria em Belém (escrito em 720 a.C., em Miquéias 5.2). Estava escrito que o Messias seria crucificado, previsão feita antes mesmo de os fenícios terem inventado a crucificação (escrito no Salmo 22.16, cerca de 1000 a.C.). Foi predito que Cristo levaria sobre Si os nossos pecados e que pelas suas pisaduras seríamos sarados (escrito em Isaías 53.5, cerca de 750 a.C.).

Segundo os cálculos do matemático Peter Stoner, a probabilidade de uma pessoa cumprir apenas oito dessas profecias era de uma em 100 quatrilhões (o número 10 elevado à décima sétima potência). Stoner mostrou uma analogia com este fato: “Pegue 100 quatrilhões de dólares de prata e espalhe-os sobre o Texas (696.241 km²). Eles cobrirão todo o estado até 65 cm de profundidade. Agora, marque uma dessas moedas e depois as misture vigorosamente. Ponha uma venda nos olhos de alguém e peça-lhe que encontre aquela moeda que você marcou, andando o quanto quiser através do estado. Qual seria a chance dessa pessoa encontrar a moeda certa? Exatamente a mesma que teriam os profetas de escreverem essas oito profecias e tê-las realizadas, ao mesmo tempo, através de um único homem, como Jesus o fez”.

Nessa certeza de fé, o rei Davi exclamou: “Vive o SENHOR, e bendita seja a minha Rocha! Exaltado seja o meu Deus, a Rocha da minha salvação!” (2 Sm 22.47). É isso que torna a fé em Jesus inabalável!



Samuel Câmara

Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sábado, 15 de outubro de 2011

O tempo de Deus

Sempre ouvimos dizer que “o tempo de Deus não é o nosso tempo”. Essa afirmação popular tem fundamento bíblico. Na Bíblia, há dois conceitos de tempo: chronos e kairos. O chronos (do qual derivam cronologia e cronômetro) é o tempo marcado pela divisibilidade do relógio: minutos, dias, décadas, séculos; compreende passado, presente e futuro. O kairos é o tempo como substância, é indivisível e não-sequencial; é a existência pura e simples; é a categoria de tempo segundo Deus, assim como chronos é a categoria humana.

Chronos (com seu “gerente” relógio) dita o nosso ritmo de vida e, geralmente, faz-nos viver confinados em agendas e prazos impostos. Para vivermos os planos divinos, temos de mudar o nosso “fuso horário” para o kairos de Deus. Isso significa sincronizar o nosso relógio diante da sala do Trono, orando e esperando que a vontade de Deus seja feita no Seu tempo e do Seu modo.

Quando Jesus estava com seus discípulos no pátio do Templo, em Jerusalém, estes teceram rasgados elogios àquela majestosa construção. Mas Jesus, surpreendentemente, lhes disse que daquele edifício não ficaria pedra sobre pedra. Momentos depois, vencidos pela curiosidade, estavam interessados em saber detalhes sobre o desenrolar dos acontecimentos. E perguntaram a Jesus: “Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século?” (Mt 24.3).

Jesus lhes deu diversas instruções sobre o fim dos tempos e acrescentou que isto estava circunscrito à exclusiva autoridade do Pai. Ou seja, tudo dependia do kairos de Deus.

Não devemos estranhar, portanto, que a Bíblia ensine que Deus também tem um “relógio”. Está escrito que Ele fixou “tempos previamente estabelecidos” (At 17.26). Por exemplo, Jesus nasceu em Belém da Judeia no tempo determinado por Deus: “Vindo, porém, a plenitude do tempo, Deus enviou Seu filho” (Gl 4.4).

Não é de admirar que Jesus tenha começado o seu ministério somente aos trinta anos de idade, não antes. Ele disse: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.15). Ele o fez de acordo com o relógio de Deus.

Até mesmo a Sua morte na cruz se deu “a seu tempo”, ou seja, no tempo de Deus (Rm 5.6). Desse mesmo modo, Deus também estabeleceu o tempo para o retorno do Seu Filho e fixou uma época para o acerto de contas com a humanidade.

O kairos de Deus não falha. Embora aconteça dentro do chronos humano, não se atrasa, a despeito da tortuosidade da história humana.

Quanto ao retorno de Jesus, há quem pense que Deus está atrasado, pois já se passaram cerca de dois mil anos, desde Sua ascensão aos céus. Porém, o apóstolo Pedro responde: “Não retarda o Senhor a sua promessa, como alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento”. O tempo de Deus não é como o nosso, pois “para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia” (2 Pe 3.8,9). Assim, para Deus, relativamente falando, só se passaram dois dias.

O tempo estabelecido por Deus será integralmente cumprido. Embora não saibamos o chronos (dia e hora) do regresso do Senhor, Deus não nos deixou à mercê da incerteza. Pelo contrário, nos indicou vários sinais.

Jesus falou da incidência de guerras, de filhos se voltando contra os pais e vice-versa, do surgimento de enganadores se fazendo de “Cristos”, de fomes e terremotos em vários lugares. Disse que muitos destilariam ódio sem causa, que a traição estaria na ordem do dia, que a iniquidade se multiplicaria e o amor se esfriaria, que muitos perderiam a fé, entre outros sinais. Mas acrescentou que isso ainda não seria o fim, mas apenas “o princípio das dores”. (Leia Mateus 24)

O apóstolo Paulo disse: “Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder” (2 Tm 3.1-5).

Em nossos dias, o declínio da moral tornou quase comum essas coisas acima. Estamos completamente cercados por uma onda crescente de imoralidade e sua influência danosa na vida social.

O “relógio” de Deus, porém, continua com o seu inexorável tic-tac, marcando cada compasso de um tempo que está prestes a se consumar. Em sabendo disso, seremos sábios se acertarmos o nosso “fuso horário” com o kairos de Deus, para que não sejamos pegos desprevenidos.

O tempo de Deus está se cumprindo, a volta de Cristo se aproxima... Você já se preparou?


Samuel Câmara

Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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terça-feira, 11 de outubro de 2011

De volta ao Céu

Em conversa com seu filho de quatro anos, a mãe, grávida, comunica que ele brevemente ganhará um irmãozinho. Perguntada sobre a procedência dos bebês, a mãe tenta mascarar a situação dizendo que eles vêm do Céu. O esperado bebê finalmente nasce. Certo dia, ao escutar um barulho estranho vindo do quarto dos meninos, ela corre para ver se eles corriam algum perigo. No quarto, a mãe encontra o filho mais velho balançando intensamente o berço e gritando ao recém-nascido: “Maninho, diga como é o Céu, diga logo, antes que você esqueça”.

Esta anedota pode até parecer excêntrica, mas tem algum sentido e traduz uma relativa verdade. De certa forma, todos viemos do Céu. A Bíblia diz que, ao morrermos, o nosso corpo volta ao pó e o espírito volta a Deus, que o deu (Ec 12.7). Que o nosso corpo vira pó, ninguém duvida. Isto é uma clara evidência bíblica de que fomos feitos pelas mãos do Criador, segundo está escrito: “Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente” (Gn 1.7). A palavra hebraica traduzida como “fôlego” é a mesma para “espírito”. Assim, o que nos torna essencialmente diferentes de todos os outros animais veio da parte do próprio Deus: o nosso espírito.

Ora, se viemos de Deus, por que não nos lembramos de nada do Céu? O que justificaria, então, a fome humana pelo sagrado? Por que todas as pessoas, de todas as culturas, sem exceção, de alguma forma tentam através da religião se comunicar com a Divindade? Talvez essa busca seja mais bem identificada pelo que disse o filósofo Blaise Pascal: “Há no coração do homem um vazio tão grande que só Deus pode preenchê-lo”.

Vamos começar, portanto, do princípio. A Bíblia diz que Deus criou o homem e a mulher perfeitos e mantinha com eles uma constante comunhão. Para que haja comunhão, convenhamos, é preciso ter conhecimento mútuo e intimidade. Assim, o relacionamento do primeiro casal com Deus, mais do que o aparentemente físico podia permitir, era também profundamente espiritual. Havia uma ligação íntima entre o espírito humano e o Espírito de Deus, de um modo especial, como só o conhecimento profundo e mútuo produz. É por isso que podemos dizer que o homem “conhecia o Céu”.

Quando o homem caiu em desobediência e pecou, seu espírito entrou em estado de morte, ou seja, perdeu não somente o contato com o Criador, mas também a possibilidade de estar em Sua presença santa.

Foi por isto que Jesus veio ao mundo, para redimir a raça humana. Tendo morrido na cruz pelos nossos pecados e ressuscitando dentre os mortos, tornou-se o Salvador de todos os que, através Dele, se chegam a Deus. Esse foi o caminho proposto pelo próprio Deus para vivificar o espírito humano, possibilitando a nossa salvação e o retorno da comunhão íntima com Ele.

Essa ação de vivificar é também chamada de novo nascimento. No encontro que teve com o líder fariseu Nicodemos, Jesus lhe disse: “Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus”. Quando Nicodemos perguntou-lhe como um homem poderia nascer, sendo velho, se voltaria ao ventre materno para nascer uma segunda vez, Jesus retrucou: “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.3-7).

A possibilidade do novo nascimento estava predita na Palavra: “Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os meus juízos e os observeis” (Ez 36.26).

Dessa feita, quando alguém entrega sua vida a Jesus, recebe de graça o perdão dos pecados e tem o coração transformado. Está escrito: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5.17). Deus nos dá um espírito novo, que volta a ter comunhão com Ele.

Há um fato comum a todos os crentes nascidos de novo: têm “saudade do Céu” sem jamais terem estado lá fisicamente. Por quê? A resposta talvez esteja no fato de que, embora a mente não possa explicar essa realidade, o espírito vivificado sabe que um dia retornará ao lar de onde partiu: o Céu que não pode ser esquecido.


Samuel Câmara

Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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sábado, 1 de outubro de 2011

Para se pensar nas coisas do Céu

O pensador cristão C. S. Lewis, autor das Crônicas de Nárnia e outros clássicos, escreveu: “Os homens que foram mais relevantes e operosos são os que viveram a pensar na vida futura. E os que viveram a vida sem pensar no Céu foram os que menos realizaram de relevante para mudar a sua geração”.

Desse modo, aprendi a pensar, não nas coisas da terra, coisas grandes demais para mim, mas permanecer com o foco voltado para o Céu, pensando “nas coisas lá do alto, onde Cristo vive” (Cl 3.1,2), pois entendo que somente isso é que dá pleno sentido à existência. A questão que sempre ronda a minha mente, da qual jamais procuro fugir, é sobre o que realmente é valioso na vida.

Em respondê-la, deparo-me com a razão que dá sentido ao que realizo e dignifica a posição que ora ocupo, assim como um farol a me mostrar se o caminho trilhado está de acordo com o que Deus requer de mim. A minha resposta é simples. O que vale a pena para mim é ocupar-me das coisas que têm a marca do celestial, ou seja, que servem primeiro ao propósito do Céu. Nada do que faço terá valor algum se não trouxer essa marca.

Isso pode parecer antiquado, mas é assim que enxergo a vida. Só me interessa dar prioridade àquilo que estava na agenda de Jesus, ao que Ele falou e fez. Sendo o Verbo divino, parece ter dito muito pouco, embora tenha falado tudo aquilo que precisávamos ouvir. Por isso, tenho me voltado intensamente para os Seus ensinamentos, principalmente ao conhecido Sermão do Monte. Eu me pergunto: que mundo teríamos se agregássemos integralmente esses valores à nossa vida?

Jesus falou que os mansos herdariam a terra, mas o que vemos são os poderosos, pela bala ou pela manipulação da justiça, tomarem para si o naco dos fracos e indefesos.

Jesus falou em humildade, mas só vemos as pessoas se promoverem na busca de fama, riqueza e poder.

Jesus disse que os famintos e sedentos de justiça seriam fartos, mas o que vemos de injustiça ainda não nos remete a isso.

Jesus indicou que os puros de coração veriam a Deus, mas sabemos que no mundo, quiçá nas igrejas, pouco resta de pureza que nos remeta a esse encontro.

Desse modo, será que Jesus era um idealista simplório que pregava o inalcançável? Aconteça o que acontecer, porém, vou continuar crendo no que Jesus falou, pois mesmo sabendo que os Seus ensinamentos na prática tenham pouca relevância para a maioria das pessoas, um dia o mundo verá que Ele tinha razão.

Quero manter, portanto, a mesma tenacidade de fé do profeta Habacuque, que disse: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação” (Hc 3.17,18).

Gosto de me ocupar com as coisas que têm valor no Céu. Assim como a oração, o jejum e a palavra de Deus tinham um lugar especial e único na agenda de Jesus, quero que esses pontos sejam também essenciais na minha vida e na vida normal da Igreja.

Se fizermos desses ensinamentos de Jesus a parte principal da agenda das nossas vidas, eles poderão produzir grandes frutos espirituais e nos manterão atentos ao cumprimento da vontade de Deus e inteiramente focados nas coisas do Céu.

A constância da nossa oração expressa o grau de nosso relacionamento com Deus. Na oração, podemos adorá-lo, louvá-lo e agradecê-lo; podemos também confessar, suplicar e interceder. No jejum, expressamos o grau de nossa estatura espiritual diante de Deus. Em vez de procurar barganhar e despojá-lo de algo, nos entregamos e nos despojamos de nós mesmos para obtermos mais Dele.

Quando nos mantemos focados nas coisas do Céu, procuramos nos esvaziar dos nossos motivos egoístas e razões absurdas, para nos enchermos do conhecimento de Sua perfeita vontade e sermos capacitados do poder para realizá-la. Sabemos que é isso o que interessa ao Céu: a palavra, a oração e o jejum, os quais nos ajudam a sermos mais santos e menos mesquinhos, mais úteis e menos fúteis na vida, pois na sua prática nos encontraremos mais próximos do coração de Deus e das coisas do Céu.

Focar a existência nas coisas do Céu ajuda a arrumar a nossa vida. Isto porque Deus colocou a eternidade no nosso coração (Ec 3.11). É por isso que a vida perde o sentido se só pensamos nos valores terrenos e efêmeros. Pense nas coisas do Céu!


Samuel Câmara

Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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