Há uma década, a cidade de Hong Kong foi invadida por pôsteres que mostravam uma única gota caindo em uma piscina, trazendo uma frase: “Hong Kong contra a corrupção”. A mensagem da campanha era que a integridade ou a desonestidade permeia a cidade em cada pessoa. Em outras palavras, é fácil se comprometer com pequenas coisas porque elas parecem não fazer diferença numa sociedade de grandes dimensões.
Parece estranho que a indignação que geralmente toma conta da sociedade brasileira face as constantes notícias de corrupção esteja paulatinamente diminuindo. A decepção que deveria ser cada vez maior, aparece cada vez menos. Será que a sociedade está sendo permeada pela desonestidade?
Sempre temos algum sinal de que nem tudo está perdido. Há sempre uma diferença que uma gota pode fazer, quando cada pessoa que anseia por mudança, que deseja ardentemente por justiça, que luta pelo direito de construir uma sociedade saudável, que expresse desaprovação moral por comportamentos socialmente perniciosos, que embora se sinta apenas “uma gota”, sabe que pode contribuir para estabelecer uma sociedade virtuosa.
Mas como construir uma sociedade virtuosa? Uma sociedade que prima pela virtude só pode ser criada por pessoas virtuosas, cujas consciências individuais preservam o comportamento e o mantém responsável. Sem a consciência da virtude, uma sociedade só pode ter um relativo controle se usar a coerção em larga escala. Mas até mesmo a coerção falha, em última instância, pois nunca haverá força policial suficiente para manter os olhos em cada indivíduo.
Assim, se somos uma sociedade com cerca de 190 milhões de pessoas, cada uma deveria, em tese, ser uma consciência em guarda. Como geralmente não procedemos assim, não somente temos mais crimes como precisamos sempre de mais policiais nas ruas.
Infelizmente, fala-se muito em justiça social sem levar em conta a virtude particular, o que é errôneo e perigoso. Torna-se inevitável que um povo sem moralidade pessoal falhe em seus esforços de criar moralidade pública. Alguém disse que “não há pecado social sem pecado pessoal”.
A desconexão entre os âmbitos público e particular tem a sua raiz no mito de que o ser humano é essencialmente bom. Numa sociedade em que nenhum estigma moral é permitido, por medo de prejudicar a autoestima de alguém, não é de estranhar que muitos falem superficialmente: “O que o político faz da sua vida particular não importa”. Ou: “Rouba, mas faz”. Ou ainda: “Não importa o que EU faça em minha vida particular”.
Ora, como racionalizar que uma pessoa possa comportar-se como velhaco, mentiroso ou fraudulento na vida particular, e ainda assim confiarmos em sua vida pública?
A base da visão cristã sobre a natureza humana, ensinada por Jesus, é que uma árvore boa produz bons frutos e uma árvore má produz maus frutos. Jesus também disse: “Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; quem é injusto no pouco também é injusto no muito” (Lc 16.10). Em suma, integridade é uma questão de caráter que passa por grandes e pequenas questões, por ações públicas e particulares, e quem falhar nas menores falhará também nas maiores.
Se é fácil se comprometer com pequenas coisas porque elas parecem não fazer diferença numa sociedade de grandes dimensões, alguém pode pensar: “Por que não alterar a verdade, não maquiar os relatórios de despesas, não utilizar o horário de trabalho para coisas pessoais? Por que não, se todo mundo faz? Ora, sou apenas uma gota!”
Na verdade, nem todo mundo faz, talvez só uma minoria de aproveitadores. Talvez a maioria esteja calada e impassível, porque cada pessoa pode estar pensando que é apenas “uma gota”. Como disse Edmund Burke: “Ninguém comete erro maior do que não fazer nada porque só pode fazer um pouco. Para que o mal triunfe só é preciso que os bons não façam nada”.
Precisamos, sim, continuar nutrindo um firme sentimento do que é certo e errado, segundo os padrões morais bíblicos, aliado a uma inabalável determinação para colocar adequadamente em ordem a nossa própria vida. A partir daí, poderemos pensar em mudar a sociedade.
Você é apenas “uma gota”, assim como eu. Se nos juntássemos, formaríamos uma torrente que finalmente lavaria a alma da nossa nação!
Gunnar Vingren e Daniel Berg, “duas gotas” apenas, trouxeram a mensagem do evangelho pentecostal ao Brasil. Ontem, na Escadinha, comemoramos o Centenário de sua chegada. Só a eternidade dirá todo o bem que fizeram ao Brasil, pois, pela sua obediência, milhões de vidas foram salvas.
Seja também “uma gota” que faz a diferença!
Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -http://www.oliberal.com.br/
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