sábado, 14 de abril de 2012

Isso me diz respeito

Um dia um rato estava passeando pela fazenda onde morava, quando viu uma ratoeira armada no celeiro. Preocupado com os outros animais da fazenda, saiu a espalhar a notícia. A galinha, primeira a ser abordada, foi logo dizendo: “Seu rato, este tipo de problema não me diz respeito, não me aflige, mas se acontecer algo a você, rezarei por sua alma”. A mesma postura teve o porco. Quando avisado da ratoeira, riu e disse: “Amigo rato, você acha que isto é um problema meu? Já viu algum porco preso numa ratoeira? E saiu a rir da preocupação do rato. A vaca, mais atenciosa, quando procurada pelo rato, procurou até fingir o máximo de preocupação, mas logo que o mesmo se afastou, ela disse: “Coitado do rato, será que ele acha que uma ratoeira me causa algum perigo?” E continuou a pastar tranquilamente.

Nessa noite todos acordaram com um baque alto. A ratoeira havia disparado. A mulher do fazendeiro, primeira a chegar ao local, no escuro, não notou que a ratoeira havia pego o rabo de uma cobra venenosa e, ao chegar mais perto, foi picada. Muito doente e com febre alta, devido a ação do veneno, nada conseguia comer. O fazendeiro decidiu então que uma boa canja ajudaria a alimentar a mulher. E deu cabo da galinha.

Como a mulher permanecia doente, seus filhos vieram da cidade para assisti-la. Então o fazendeiro teve que sacrificar o porco para alimentá-los. Não tendo como ser curada, a mulher piorou de saúde e terminou morrendo. Veio então todo o povo das redondezas para o velório. O fazendeiro resolveu matar a vaca, para servir um churrasco depois do funeral.

Moral da estória: na próxima vez que alguém estiver diante de um problema e você acreditar que o mesmo não lhe diz respeito, lembre-se: quando há uma “ratoeira” no terraço, todos correm perigo! Quando estamos na mesma “fazenda”, o problema de um deve ser de todos!

Para quais pessoas a Parábola da Ratoeira serviria de lição? Para pessoas que não esboçam nenhum sentimento diante da violência urbana. Para aqueles que observam passivamente o aumento da criminalidade, o desrespeito às leis e a opressão do forte contra o fraco, mas nada dizem, nem mesmo oram a respeito. Para os que veem a vida ser banalizada e os frágeis serem imolados, mas não se importam. Para aqueles que ficam impassíveis quando alguém sofre, uma bomba explode e destrói casas, mata ou mutila pessoas, como se isso não passasse de um filme de ação.

E por que, na maioria das vezes, não nos importamos com o que acontece à nossa volta? Talvez porque a maioria dessas coisas aconteça fora do nosso campo de interesse imediato, é bem provável que as vejamos como mero espetáculo televisivo. Talvez pelo simples fato de aparentemente nada terem a ver com isso, ao menos de um modo direto, alguns no máximo se sintam chocados e confusos. Outros, descrentes de quaisquer possibilidades de mudanças no mundo e sem nenhuma confiança no futuro, talvez apenas digam: Isso não me diz respeito.

Quanto mais o mundo encolhe e se transforma numa “aldeia global”, por causa dos avanços na comunicação, fica mais fácil ver de tudo um pouco. Mas se importar com o próximo parece estar na contramão desse processo de “encolhimento do mundo”. Em vez de as pessoas se tornarem mais próximas, a marca do nosso tempo é a corrente de intenso individualismo do ser humano, o egocentrismo. Esse sentimento excessivo da própria personalidade faz com que alguém se importe apenas no trato consigo mesmo, com pouca ou nenhuma consideração pelos interesses alheios.

Não precisamos ir longe. Basta ver o ambiente de trabalho. Quantos deixam de se importar com alguma coisa errada, sem nada fazer para mudar, somente porque parece não lhes dizer respeito? E dentro da própria casa, quantos deixam de somar na busca de melhorias, apenas porque é obrigação de outro? E nas comunidades, quantos deixam de interagir, de buscar mudanças, de fazer diferença, apenas porque algo não lhes atinge de modo direto ou não lhes interessa?

Há muitas maneiras de nos envolvermos com os problemas à nossa volta, quer seja a nossa casa, a igreja, o ambiente de trabalho, ou o mundo. Podemos fazer o que está ao nosso alcance, às vezes denunciando, outras exigindo mudanças, ou arregaçando as mangas quando a situação o exigir.

Podemos também nos utilizar do poder da oração e suplicar a Deus por cada situação, pois “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”. A Bíblia nos ensina a usar “a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos”, pois “isto é bom e aceitável diante de Deus”.

Ore e coloque-se à disposição para ser usado por Deus. Pois quem ora e serve a Deus vai sempre poder dizer: Isso me diz respeito!


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém

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