Em 05 de setembro de 1989, portanto há apenas 19 anos ou 231 meses, 1.656 convencionais (pastores e evangelistas) da Assembléia de Deus no Brasil se reuniam na primeira Assembléia Geral Extraordinária em Salvador na Bahia, exatamente para decidirem o destino de nossa denominação. Houve ali o primeiro ‘racha’. No texto do livro “História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil” na pág. 526 é citado com um certo ar de orgulho, que a “a maior delegação veio de São Paulo, sendo mais de 50% do plenário” (1) , mesmo local onde anteriormente (19 a 23 de janeiro de 1987) reuniram-se mais de 3.000 pastores na Assembléia Geral Ordinária realizada no Centro de Convenções em Salvador/BA (2).
16.736 é o número de convencionais inscritos para a eleição da mesa diretora da CGADB a ser realizada no mês de abril/2009 em Vitória/ES, número fechado conforme estatuto e regimento às 18:00 hs do dia 20 de janeiro de 2009 dos que estarão aptos a votar no dia vinte e três (3).
Crescimento de 910,62% sobre a quantidade dos que decidiram partir a Assembléia de Deus em duas naquela Convenção de 1989, diga-se de passagem, primeiro ano de administração do atual e constante Presidente desde então, apenas interrompida por uma estratégica eleição na AGO de Cuiabá/MT (4).
Curiosidades a parte, tais como: qual deverá ser a maior delegação? Precisamos mais do que nunca, fazer uma reflexão traçando um paralelo entre este assombroso e louvável crescimento de ceifeiros (caso realmente seja esse, o objetivo!) e o crescimento da IEADB neste mesmo período.
Bons tempos aqueles em que assembleianos alardeavam a quem quisesse ouvir, que de toda a população evangélica existente no Brasil ‘éramos pelo menos 50%’, com alguns mais afoitos, que diziam sermos 60 e até 65% do total dos evangélicos. Isso deve ter pouco mais de 20, talvez uns 25 anos no máximo.
Surpreso, vi uma reportagem por ocasião da visita do atual papa ao Brasil em 2007, quando a imprensa nacional noticiou estatísticas do crescimento dos evangélicos em nosso país. Estudos da FGV e dados atualizados do censo do IBGE onde éramos 15,4% de evangélicos no ano 2000 (26,1 milhões de uma população à época de 169,8 milhões de pessoas). Daquele total de evangélicos (15,4%) já se tornava visível uma diminuição de patamar do chamado ‘rebanho assembleiano’. Somente 8.418.140 pessoas (32,14% do total de evangélicos) diziam-se freqüentadores da Assembléia de Deus. Já não éramos os tão propalados ‘mais de 50%!’ (5).
Pois bem! Em 2007, com a vinda do papa, novos números foram divulgados com algumas atualizações e outras projeções. A quantidade de evangélicos atualizada pela fundação Getúlio Vargas – FGV divulgada era de 17,88%, sendo 12,49% pentecostais e 5,39% tradicionais e, segundo a mesma FGV a segunda maior igreja com número de adeptos depois da Igreja Católica, figura a Assembléia de Deus com 4,49% (Jornal Valor, 03/05/2007) do total geral (6).
Onde queremos chegar nesta análise?
Os quatro ponto quarenta e nove por cento de Assembleianos representam somente 25,11% do total dos evangélicos, o que demonstra a queda livre que vem ocorrendo em relação a membresia da Assembléia de Deus (7).
Percebemos que, mesmo com a bela peça de marketing “A Década da Colheita” fazendo uma cortina de fumaça que desviou o foco do real problema enfrentado pela Assembléia de Deus na década de 90 – divisão – os números divulgados pelo IBGE e FGV são inversamente proporcionais ao crescimento do contingente de obreiros aptos ao voto na próxima AGO, ficando a triste e inevitável constatação: Enquanto a quantidade de evangélicos cresce no país, os assembleianos encolhem. Que colheita é esta?
A aritmética é simples: saímos de um patamar de, ‘pelo menos’ 50% de todo o povo evangélico no país, para um patamar atual de aproximadamente 25% dos evangélicos. Algo tem estado errado com a nossa Assembléia de Deus nessas últimas duas décadas e meia. Enquanto isso, os católicos tidos como mais de 70% (73,79%) da população brasileira constatam que lhes faltam padres. Segundo o mesmo estudos, eles não passavam de 18 mil em todo o Brasil, que forma em média, 400 padres por ano nos seminários e ainda depois disso passam por uma fase de estágio (8).
Lembremos: somente inscritos para votar, em nossa CGADB tivemos 16.736 pastores e evangelistas, fora os muitos que por algum motivo não se inscreveram – apenas assembleianos! – que, conforme a relação publicada no site oficial da CGADB no primeiro banner onde se lê ‘EDITAL DE PUBLICAÇÃO’ ou na lateral esquerda da home page ‘lista alfabética’, iremos encontrar exatos 34.603 pastores e evangelistas filiados àquela Convenção, aptos ao exercício do voto. (9)
Enquanto existe um padre para cada 10.000 habitantes no Brasil. A Itália tem 1 para cada 1.000 habitantes (O Globo on line de14/03/2007) (10).
Nós evangélicos temos 18 vezes mais pastores por fiel, no Brasil segundo a FGV. E como seria esta proporção somente entre os assembleianos? Façamos uma reflexão mais simples: são 18.685 padres para pastorear 73,79% da população e 16.736 pastores (somente os inscritos na CGADB aptos a votar) para pastorear 4,49% da população. Se tomarmos por base as projeções do IBGE, que estimou uma população em 2007 de 183.987.291 habitantes para o Brasil (11) e, aplicarmos os índices acima citados chegaremos a números mais atualizados, para 135,7 milhões de católicos pastoreados por 18.685 padres (1 padre para cada grupo de 7.265 fiéis), 8,2 milhões de evangélicos ASSEMBLEIANOS pastoreados por 16.736 pastores eleitores (1 pastor para cada grupo de 493 fiéis) ou ainda, 34.603 pastores filiados a CGADB (1 pastor para cada grupo de 238 fiéis).
Apenas como informação, relembremos a AGE de 1989 quando 1.656 pastores e evangelistas votaram pela divisão da AD, passados 22 anos da AGO de 1987 com pouco mais de 3.000 convencionais, e tracemos um paralelo com 2009 quando temos 16.736 convencionais inscritos ou 34.603 filiados a CGADB. Quanto aos membros, regredimos para um patamar de somente 25% dentre os evangélicos no Brasil, enquanto presenciamos o crescimento de nossa população evangélica de 9,0% em 1991 para 15,4% em 2000 e, para 17,88% (FGV) em 2003 (12) os 4,49% de assembleianos representam só 25,11% desses 17,88%. É pura aritmética!
Se considerarmos o símbolo adotado pelos cristãos desde a época dos discípulos, o peixe estilizado desenhado na areia com dois traços, só nos resta constatar o triste fato de que muita coisa tem mudado e... para pior! Alguém está pescando em nosso aquário assembleiano.
Essa inversão na relação crescimento do número de pastores X diminuição no número de fiéis é que nos sugere a pergunta título deste artigo.
LUIZ PIMENTEL
AD Curitiba/PR
Citações:
(1) CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL – CPAD. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro, 2004. 526 p.
(2) CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL – CPAD. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro, 2004. 513 p.
(3) http://samuelcamara.blogspot.com/2009_01_01_archive.html. Pastor Samuel convida Pastores a se inscreverem para AGO em Vitória - ES. Disponível em: 20 de janeiro de 2009, vídeo postado por webmaster às 15:27
(4) CASA PUBLICADORA DAS ASSEMBLÉIAS DE DEUS NO BRASIL – CPAD. História da Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro, 2004. 549 p.
(5) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico 2000. Características gerais da população. Resultado da amostra. Tabela de resultados.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/religiao_Censo2000.pdf
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/religiao_Censo2000.pdf
(6) JORNAL VALOR. 3 maio 2007. Reportagem de Paulo Toti. Disponível em:
http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=&task=detalhe&id=6898 Acesso em: 11 maio 2007.
http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=&task=detalhe&id=6898 Acesso em: 11 maio 2007.
(7) Cálculo efetuado por regra de três simples tomando-se por base o percentual de assembleianos citado na referência 6 acima (4,49%) do total dos evangélicos pentecostais (12,49%) somados aos tradicionais (5,39%) perfazendo um total de 17,88%
(8) GLOBO ON LINE. 3 maio 2007. Igreja católica deixa de perder fiéis, diz FGV. Ùltimo parágrafo da reportagem. Disponível em:
(10) O GLOBO ON LINE. 14 março 2007 às 09h31m. Reportagem de Valquiria Rey. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/03/14/294922799.asp Acesso em: 11 maio 2007.
http://oglobo.globo.com/pais/mat/2007/03/14/294922799.asp Acesso em: 11 maio 2007.
(11) INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Metodologia das estimativas das populações residentes nos municípios brasileiros para 1º de julho de 2008. 12 p. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2008/metodologia.pdf
(12) FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS – FGV. Economia das Religiões. Marcelo Neri. Disponível em: http://www.sav.org.br/?system=news&action=read&id=1641&eid=17