Geralmente encontramos pessoas que não conseguem ver nada de bom nos outros, a não ser em si mesmas. Esse é o tipo mais abjeto de pregoeiro de defeitos. Mas há um pregoeiro atípico, o da pessoa que se torna arauto de seus próprios defeitos. Embora pareça incomum, qualquer um de nós, aqui e ali, pode encontrá-los nos palcos da vida. Podemos, então, perguntar: por que alguém, voluntariamente, se deprecia e revela falhas e deficiências pessoais sobre as quais seria melhor calar?
Lembro-me de um exemplo ocorrido numa recepção, quando duas moças estavam a conversar num grupo de amigos. Uma, muito bonita; a outra, nem tanto. E cada uma usava um lindo colar de pérolas. Aproxima-se, então, um publicitário detentor da conta de uma grande joalheria, que elogia a beleza da moça bonita e faz referência ao lindo colar, dizendo que, se ela quisesse, poderia utilizá-la como modelo numa grande campanha publicitária. Ela prontamente replica: – Oh, eu gostaria muito, mas como poderia? Tenho as mãos grandes e desajeitadas... e o meu colar custou só 1,99. Alice é que deveria atuar, ela também é bonita, tem muito bom gosto, e seu colar deve ser caríssimo.
O desenrolar da história foi o seguinte: João, outrora interessado em namorar a moça bonita, só então percebe que suas mãos são grandes e os dedos muito separados. Além de começar a notar outros defeitos, perdeu todo o interesse. O publicitário, que nem havia notado Alice, começou a perceber a graciosidade de seus modos discretos, elogiou o seu colar (que ninguém sabia ter sido comprado na mesma loja e pelo mesmo valor) e pensou seriamente em contratá-la.
Na saída, duas idosas conversavam: – Viu, a moça vai ser contratada. – Qual, a de mão grande e colar de 1,99? – Não, não; a lindona do caríssimo colar de pérolas.
A vida nos ensina que jamais devemos ir ao extremo do autoelogio, numa tentativa de anunciar a própria excelência e importância. Sabemos que já há muitos gabolas nesse mundo. Mas precisamos aprender a lição de que, se a modéstia nos impede de atirar confetes sobre a própria cabeça, não devemos também nos jogar pedras. Jamais devemos chamar a atenção sobre as nossas deficiências, pois quando focalizamos um aspecto desfavorável em nós mesmos, todas as boas coisas que porventura tenhamos tendem a se ocultar naquela sombra.
Muitos proclamam os próprios defeitos pela simples razão de buscar, com isso, merecer a compaixão alheia. Mas o resultado é de efeito contrário: perdem os seus atrativos, quando não se tornam ativamente antipáticos.
Muitas pessoas não se dão conta de que expor os defeitos pessoais pode ser simplesmente uma espécie de autocompaixão crônica a revelar um incontornável complexo de inferioridade. De fato, a maioria das confissões voluntárias (quando ninguém pergunta) é devida a fatores que vão desde uma simples inadvertência até uma tendência descontrolada para falar. Porque quando se fala demais, a tendência é falar de si próprio, momento em que a pessoa solta uma espécie de diário verbal, contando tudo o que lhe aconteceu e matraqueando o que tem em mente. Estas, só muito tarde, se dão conta de que é no meio dessa tagarelice descontrolada que escapam as confissões desairosas que um dia poderão lhe obstruir o caminho.
Todos conhecemos pessoas possuidoras de alguma deformação, mas elas jamais se queixam nem mencionam a sua deformidade; pessoas sem beleza, mas que se calam a respeito, e tentam destacar-se de outra maneira; pessoas que sofrem dores, mas que nunca se traem; pessoas que sofreram grandes decepções, mas que conservam o sorriso. Essas pessoas manejam uma força mental e moral obviamente muito maior do que as que não cessam de falar sobre suas próprias dificuldades. Ademais, tendo o caráter em formação, tornam-se mais atentas e buscam ampliar sua influência no meio em que vivem.
Devemos, portanto, nos guardar da autodepreciação. Além dos benefícios práticos disso, conter-se discretamente ajuda a melhorar o moral e contribui para tornar a pessoa mais forte, colocando-a num plano superior de respeito próprio. Se procurarmos mostrar-nos animados e cativantes, se elogiarmos os outros e pensarmos em coisas agradáveis ou interessantes para dizer ou fazer, certamente viveremos melhor e ninguém dará demasiada atenção aos nossos defeitos.
É bom seguir o conselho bíblico: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8). Mirando nesse “espelho” podemos ver e viver o que a vida nos deu de melhor.
Samuel Câmara
Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
Confira os artigos do Pastor Samuel Câmara, todas as semanas no jornal "O Liberal" -http://www.oliberal.com.br
Lembro-me de um exemplo ocorrido numa recepção, quando duas moças estavam a conversar num grupo de amigos. Uma, muito bonita; a outra, nem tanto. E cada uma usava um lindo colar de pérolas. Aproxima-se, então, um publicitário detentor da conta de uma grande joalheria, que elogia a beleza da moça bonita e faz referência ao lindo colar, dizendo que, se ela quisesse, poderia utilizá-la como modelo numa grande campanha publicitária. Ela prontamente replica: – Oh, eu gostaria muito, mas como poderia? Tenho as mãos grandes e desajeitadas... e o meu colar custou só 1,99. Alice é que deveria atuar, ela também é bonita, tem muito bom gosto, e seu colar deve ser caríssimo.
O desenrolar da história foi o seguinte: João, outrora interessado em namorar a moça bonita, só então percebe que suas mãos são grandes e os dedos muito separados. Além de começar a notar outros defeitos, perdeu todo o interesse. O publicitário, que nem havia notado Alice, começou a perceber a graciosidade de seus modos discretos, elogiou o seu colar (que ninguém sabia ter sido comprado na mesma loja e pelo mesmo valor) e pensou seriamente em contratá-la.
Na saída, duas idosas conversavam: – Viu, a moça vai ser contratada. – Qual, a de mão grande e colar de 1,99? – Não, não; a lindona do caríssimo colar de pérolas.
A vida nos ensina que jamais devemos ir ao extremo do autoelogio, numa tentativa de anunciar a própria excelência e importância. Sabemos que já há muitos gabolas nesse mundo. Mas precisamos aprender a lição de que, se a modéstia nos impede de atirar confetes sobre a própria cabeça, não devemos também nos jogar pedras. Jamais devemos chamar a atenção sobre as nossas deficiências, pois quando focalizamos um aspecto desfavorável em nós mesmos, todas as boas coisas que porventura tenhamos tendem a se ocultar naquela sombra.
Muitos proclamam os próprios defeitos pela simples razão de buscar, com isso, merecer a compaixão alheia. Mas o resultado é de efeito contrário: perdem os seus atrativos, quando não se tornam ativamente antipáticos.
Muitas pessoas não se dão conta de que expor os defeitos pessoais pode ser simplesmente uma espécie de autocompaixão crônica a revelar um incontornável complexo de inferioridade. De fato, a maioria das confissões voluntárias (quando ninguém pergunta) é devida a fatores que vão desde uma simples inadvertência até uma tendência descontrolada para falar. Porque quando se fala demais, a tendência é falar de si próprio, momento em que a pessoa solta uma espécie de diário verbal, contando tudo o que lhe aconteceu e matraqueando o que tem em mente. Estas, só muito tarde, se dão conta de que é no meio dessa tagarelice descontrolada que escapam as confissões desairosas que um dia poderão lhe obstruir o caminho.
Todos conhecemos pessoas possuidoras de alguma deformação, mas elas jamais se queixam nem mencionam a sua deformidade; pessoas sem beleza, mas que se calam a respeito, e tentam destacar-se de outra maneira; pessoas que sofrem dores, mas que nunca se traem; pessoas que sofreram grandes decepções, mas que conservam o sorriso. Essas pessoas manejam uma força mental e moral obviamente muito maior do que as que não cessam de falar sobre suas próprias dificuldades. Ademais, tendo o caráter em formação, tornam-se mais atentas e buscam ampliar sua influência no meio em que vivem.
Devemos, portanto, nos guardar da autodepreciação. Além dos benefícios práticos disso, conter-se discretamente ajuda a melhorar o moral e contribui para tornar a pessoa mais forte, colocando-a num plano superior de respeito próprio. Se procurarmos mostrar-nos animados e cativantes, se elogiarmos os outros e pensarmos em coisas agradáveis ou interessantes para dizer ou fazer, certamente viveremos melhor e ninguém dará demasiada atenção aos nossos defeitos.
É bom seguir o conselho bíblico: “Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4.8). Mirando nesse “espelho” podemos ver e viver o que a vida nos deu de melhor.
Samuel Câmara
Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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