A singeleza sem igual do Evangelho
de Jesus Cristo, cuja mensagem descomplicada e clara, posta em linguagem
simples e compreensível, faz com que seja entendido até pelas crianças. A
resposta ao Evangelho precisa estar imbuída de uma fé igualmente simples, sem
ser simplista. No entanto, inúmeras pessoas, dentro e fora das igrejas, não
conseguem ou não querem entender que as exigências esdrúxulas e mirabolantes que
muitas vezes são apresentadas como mensagens “evangélicas” não passam de tábua
rasa do legalismo com verniz religioso, nada tendo a ver com o verdadeiro Evangelho
de Cristo.
Se o Evangelho fosse complicado, talvez seria
mais palatável aos afeitos a enfrentar desafios difíceis. Se dependesse de
grandes exercícios intelectuais, talvez fosse considerado suficientemente culto
aos que se gloriam do próprio saber. Se dependesse de investimento financeiro e
pudesse ser comprado numa apólice, talvez os ricos estivessem dispostos a pagar
grandes somas pelas suas bênçãos.
Se o Evangelho dependesse de
esforços pessoais para recebimento do perdão de pecados, não seria “boas novas”.
O Evangelho tem uma marca indelével: tudo o que tinha de ser feito para o
reatamento da nossa comunhão com Deus foi realizado definitivamente por Jesus! O
próprio Jesus, no patíbulo da cruz, bradou: “Está consumado!”.
Essa é a boa notícia: o Evangelho “é o
poder de Deus para salvação de todo aquele que crê”. Jesus disse:
“Arrependei-vos e crede no Evangelho” (Rm 1.16; Mc 1.15). Desse modo, o que Deus requer de cada
pessoa é a simplicidade da fé devida ao Evangelho, a mensagem das “boas novas” de que somos
salvos pela graça de Deus; não algo a ser explorado para proveito próprio, como
temos visto hoje em dia.
Infelizmente,
alguns líderes religiosos abusam da credulidade do povo e se aproveitam da
disposição humana de achar-se “merecedor” de bênção. Em vez de levarem as
pessoas ao exercício de uma fé simples e descomplicada em Deus, complicam tudo ao
remetê-las a uma caminhada de luta baseada em esforço pessoal, que para nada
aproveita. Bem disse o sábio Salomão: “Tudo o que eu aprendi se resume nisto: Deus nos fez simples e direitos, mas
nós complicamos tudo” (Ec 7.29).
O exemplo de Naamã,
o famoso comandante do exército da Síria, que havia contraído lepra, é
sintomático. Por causa da doença, seu prestígio estava minguando e ele tinha
pouco tempo de vida. Nisso, uma menina escrava apresentou a mensagem de que
havia em Israel um profeta de Deus que podia curá-lo. Ciente disso, ele juntou
presentes finos e muito dinheiro, e partiu ao encontro do profeta.
O profeta Eliseu
lhe disse: “Vai,
lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne será restaurada, e ficarás limpo”.
Mas Naamã, decepcionado e indignado, filosofou toda a sua frustração: “Pensava
eu que ele sairia a ter comigo, por-se-ia de pé, invocaria o nome do Senhor,
seu Deus, moveria a mão sobre o lugar da lepra e restauraria o leproso”. Mas os
seus oficiais lhe disseram: “Meu pai, se te houvesse dito o profeta alguma
coisa difícil, acaso, não a farias? Quanto mais, já que apenas te disse:
Lava-te e ficarás limpo”.
A mensagem era simples,
franca e direta. Tudo o que ele tinha de fazer era banhar-se sete vezes no rio
Jordão. Convencido pelos oficiais, Naamã fez o que dissera o profeta, obtendo
sua cura. Depois disso, afirmou: “Reconheço que em toda a terra não há Deus,
senão em Israel”. (Leia 2 Re 5.1-15).
Em suma, enquanto o
profeta de Deus queria que Naamã exercesse uma fé simples em Deus, este queria
espetáculo. Mas foi só depois de fazer “consoante a palavra do homem de Deus” é
que Naamã recebeu a bênção.
A Bíblia diz que “a fé
vem pelo ouvir a palavra de Deus”, não a loquacidade humana. Jesus disse: “Não só de pão viverá o homem, mas de
toda palavra que procede da boca de Deus” (Rm 10.17; Mt
4.4). Sendo assim, quando alguma mensagem sugerir algo que a Palavra de Deus
não autoriza, desconfie.
Quando alguém pregar que
a sua fé precisa de um malabarismo religioso para receber cura; quando lhe
disserem para se utilizar de alguma “simpatia”, como se tal coisa pudesse
proteger a sua vida; quando tentarem extorquir dinheiro em troca de bênçãos;
quando disserem para colocar sal grosso na casa para expulsar os maus fluidos; quando
tentarem atribuir a responsabilidade de seus pecados a “encostos”; quando
quiserem vender qualquer coisa (rosas, azeite, sal, fita etc.) para “abrir
portas” a fim de receber alguma bênção; sim, desconfie, pois essas coisas são
tentativas engenhosas de pantomimizar o Evangelho, mas sendo tropeço aos
pequeninos e escândalo aos símplices.
O Evangelho de Jesus é simples, mas
deveras exigente; é de graça, mas não barato. A porta é apertada; e o caminho, estreito
e sem atalhos. Viva a simplicidade do Evangelho!
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