Certamente há pessoas que gostariam de ganhar uma “compra maluca” em um supermercado e ficam a imaginar o quanto isso seria emocionante. Nesses concursos, o ganhador tem uns poucos minutos para pegar o máximo de mercadorias possível. Quanto o tempo finda, os itens são contados e o preço totalizado. O mais importante: tudo é grátis!
Numa dessas competições, quando o relógio começa a marcar o tempo, suponhamos que o participante tenha ido direto para os produtos mais caros. Podemos deduzir, obviamente, que o mesmo tinha traçado uma estratégia cuidadosa e que sabia exatamente o que queria.
Agora, suponhamos que o competidor tenha enchido o carrinho com produtos inúteis, por exemplo, caixas vazias de mostruário. O que diríamos? “Que tolo! Por que não pegou o que era mais caro?”
É essa imagem que temos com a descrição que o profeta Jeremias faz do povo de Israel em sua relação com Deus. Segundo o profeta, o povo passou os dias acumulando coisas vazias e inúteis; ou seja: “trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito” (Jr 2.11). Em outras palavras, eles se afastaram de Deus, a fonte de todo o bem, para confiarem em objetos sem nenhum valor.
Nesse caso, Jeremias estava se referindo ao fato de Israel abandonar o Senhor e passar a confiar em ídolos que nada podem fazer. Isto era para ser motivo de espanto nos céus, diz o profeta: “Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.12-13).
Não precisamos voltar tanto na história para constatar que grande tolice é essa atitude. Causa preocupação o fato de não poucas pessoas ainda hoje fazerem as mesmas coisas condenadas pelo profeta.
São pessoas que agem “como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14). Basta surgir um modismo, uma “pirotecnia” com algum verniz teológico, e lá se vão eles. São como competidores que enchem o carrinho com coisas que não têm nenhum proveito.
Em vez de colocarem sua confiança no Senhor, confiam no que diz o enganador. Nem se dão conta se sua mensagem está fora de contexto ou em flagrante contradição com a Palavra de Deus. Em lugar de exercerem a fé no que Deus diz, praticam a fé na fé; ou seja: fé em coisas e pessoas, fé em métodos, fé no que podem fazer.
Quando as pessoas são instruídas a confiar em coisas e métodos, elas estão sendo levadas simplesmente à prática religiosa. Usar sal grosso para espantar mau-olhado, colocar um copo de água sobre o rádio ou televisão para receber cura, utilizar um ramo de arruda para espantar maus fluídos, dar dinheiro para receber bênçãos, fazer correntes, participar de campanhas, entre outros, é ter fé na fé, é praticar religião. Isso nada tem a ver com o Evangelho ou com os princípios da fé, conforme expressos nas Escrituras.
Vejo com pesar muitas pessoas frustradas e machucadas, sentindo-se infelizes porque, mesmo tendo feito tudo, a sua fé não funcionou. Vejo não poucos espiritualmente esgotados, cansados da própria fé, com medo de confiar em Deus. Como resultado, pesa-lhes ainda a auto-acusação contínua de que não creram como deveriam ou que a sua fé é insignificante.
As águas barrentas dessa neoteologia dos “ganhadores de nada” não satisfazem a sede. A esses, serve o que Jesus diz: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.13-14).
Confie somente em Deus, pois só assim poderá dizer: “Tudo posso naquele que me fortalece”.
Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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