A primeira opção era colocar a seguinte mensagem nos pára-choques dos veículos: "Este carro pertence a um motorista bêbado já condenado". E qual era a segunda, a qual quase todos os infratores preferiam? Ora, esta consistia em inscrever-se no programa de tratamento para alcoólatras.
E por que a escolha dessa opção era tão óbvia? Porque a maioria das pessoas preocupava-se com o que os outros pensariam e queria manter uma boa imagem. Obviamente, ninguém gostaria de ser pego no contrapé de seu próprio mau comportamento, em vendo isto se tornar "publicidade". Em sã consciência, ninguém gostaria de ter publicamente exposta a deformidade de seu caráter e ser motivo de chacota dos outros.
Ah, com certeza, nenhuma pessoa de bom senso, ao ser flagrada num comportamento abjeto, gostaria de ser constrangida publicamente. Esse receio de constrangimentos se aplica também a muitos comportamentos inaceitáveis. Por exemplo, ninguém gostaria de andar por aí com uma placa nas costas com mensagens como:
"Fique atento: eu gosto de trapacear e de levar vantagem."
"Tenha cuidado: sou dominado pela luxúria e não pelo amor."
"Perigo: sou um cristão que não gosta de oração e de ler a Bíblia."
"Cuidado: sou um filho de Deus que adora fofocar e criar intrigas."
"Atenção: não costumo cumprir a minha palavra."
"Cautela: não preciso de eleitores; eu vou fraudar as eleições mesmo!"
"Preste atenção: sou um cristão de fachada, sou pior do que o descrente."
Pense se o Juiz fosse o próprio Deus, e Ele lhe designasse uma placa dessas! Há, portanto, uma pergunta que teima em não calar: se Deus nos designasse uma placa assim, nosso interesse pessoal pelo respeito dos outros poderia de algum modo evitar que revelássemos a nossa verdadeira condição espiritual?
A forma como respondemos a essa pergunta diz muito a respeito de nosso senso de dignidade diante de Deus e dos homens.
O problema é que dignidade é um artigo raríssimo numa terra acostumada a ver tanta injustiça do poderoso contra o fraco; tanta frouxidão moral em nome do politicamente correto; tamanha apatia espiritual diante da banalização da vida.
Dignidade é decência, é decoro. É isso que gera a autoridade moral que se recusa a dobrar-se diante da injustiça. É isso que produz a honestidade banhada de honra e respeitabilidade e, por fim, faz nascer a autoridade que enfrenta a desonra e a mentira.
Dignidade é também respeitar a si mesmo; é ter amor-próprio, é agir pelo brio do caráter, não pelo brilho do aplauso.
Nem sempre as pessoas julgam corretamente, pois geralmente se baseiam nas aparências. Mas uma coisa é certa: Deus sempre nos julga corretamente. Por isso, o apóstolo Pedro ensina: "Ora, se invocais como Pai aquele que, sem acepção de pessoas, julga segundo as obras de cada um, portai-vos com temor durante o tempo da vossa peregrinação" (1 Pe 1.17).
O que as pessoas veem em nossas vidas são muito mais que "placas". Na verdade, somos como "cartas" lidas por todos. É isso que o apóstolo Paulo ensina a respeito dos discípulos de Jesus: "Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens" (2 Co 3.2).
A mensagem que levamos às pessoas são as nossas atitudes e ações, efetivadas na vida pública ou privada que levamos. O que fazemos na intimidade de nosso lar ou em algum recôndito da nossa discrição importa tanto a Deus como o que fazemos publicamente.
Diante disso, temos de responder a essa pergunta incômoda: como cartas lidas por todos, é possível que temamos a opinião de Deus menos do que temeríamos a opinião dos outros?
Samuel Câmara - Pastor da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe
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