Geralmente fala-se com muita ênfase
sobre a libertação que a fé produz, mas pouca atenção é dada ao aprisionamento
que a fé pode causar. Depende do tipo de fé, obviamente. Ao meditar, pois,
sobre a doutrina da fé, em como está sendo ensinada e recebida entre os
cristãos por toda parte, preocupa-me o fato de que o moderno conceito de fé atualmente
apresentado por alguns pregadores está distante do significado que a Bíblia
apresenta.
Refiro-me ao conceito atualmente em
voga, que pode ser denominado de “fé-na-fé”, ou seja,
fé em coisas e pessoas; fé em métodos, no que podemos fazer, não uma genuína e
legítima fé em Deus baseada na Palavra de Deus.
A minha preocupação se confirma
pelos resultados que podem ser vistos nas vidas de muitas pessoas que se
esforçaram sinceramente em manter uma vida de fé. Vejo, com pesar, muitas
pessoas frustradas e machucadas, sentindo-se infelizes porque a sua fé não
funcionou. Vejo não poucos espiritualmente esgotados, cansados da própria fé,
com medo de confiar em Deus.
Como resultado,
pesa-lhes ainda a autoacusação contínua de que não creram como deveriam, ou que
apenas têm pouca fé. Isso as esmaga mais ainda, pois ficam a pensar que Deus as
ama menos por causa do seu fracasso em crer. Outros há que elegem Deus como um
grande vilão a exigir de pobres mortais o que não pode ser alcançado, a não ser
pelos dotados de espíritos superiores.
Penso que nesse ponto
reside a diferença entre a verdadeira vida de fé e a vida meramente religiosa.
Religião e fé não são palavras sinônimas, e a prática de uma é a negação da
outra. Religião é quando tentamos chegar a Deus pelos nossos próprios esforços;
a vida de fé é Deus chegando até nós na revelação de Seu Filho Jesus Cristo.
Quando as pessoas são
instruídas a confiar em coisas e métodos, elas estão sendo levadas simplesmente
à prática religiosa. Usar sal grosso para espantar mau-olhado, colocar um copo
de água sobre a televisão para receber cura, utilizar um ramo de arruda para
espantar maus fluídos, dar dinheiro para receber bênçãos, entre outros, é estar
subordinado à fé-na-fé, é praticar religião. Isso não tem nada a ver com o Evangelho
ou com os princípios de fé, conforme expressados nas Sagradas Escrituras.
Quando usamos a palavra
fé estamos tratando de uma reação de confiança a determinado conjunto de fatores.
No caso da fé em Deus, ela não se inicia com o ser humano, como diz a religião.
Antes, inicia-se quando Deus se revela a nós, quando Ele abre o Seu coração
para conosco e revela o Seu amor e Sua graça concretizados em Jesus Cristo.
Assim, a fé começa com o caráter de Deus e a obra que Ele realizou por nós
através de Seu Filho.
A Bíblia apresenta a seguinte definição
de fé: “A fé é a certeza de coisas que
se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11.1). A fé é uma
certeza que vem da revelação da Palavra de Deus, é um canal de confiança viva,
é “a certeza” que se estende do homem até Deus em confiança no que o próprio
Deus falou. A palavra certeza significa “uma percepção mental segura” e
refere-se à convicção de que as promessas de Deus nunca falham. Ter fé significa
“acreditar no testemunho de outrem”. Assim, a verdadeira fé envolve inteiramente
a confiança no testemunho da Palavra de Deus.
A revelação vem da Palavra de Deus, e a verdadeira
fé começa com a revelação e por ela é fundamentada. Após a revelação, vem a
compreensão dessa revelação. Quando a revelação é recebida e compreendida, obtém-se então o conhecimento.
Quando se adiciona a confiança a esse conhecimento, a fé pode ser demonstrada.
Essa é a ordem das coisas. A manifestação de qualquer coisa proveniente de Deus
é por fé somente, porque Deus estabeleceu esta lei da fé: “O justo viverá pela fé” (Gl 3.11).
Não podemos mudar esse conceito, pois a nossa vida será sempre decorrente do
que cremos.
Podemos viver um sólido tipo de fé
inteiramente baseada numa correta interpretação das Escrituras, quando a
verdade se credencia na prática, ou viver uma fé aprisionante originada de
conceitos advindos meramente da religiosidade humana.
Em suma, quando confiamos na Palavra
de Deus e agimos de acordo com a mesma, obtemos o que Deus diz que teremos ao
confiarmos Nele. O Deus verdadeiro é quem garante a Sua Palavra.
Quando, porém, seguimos regras
humanas e religiosas, colhemos somente a decepção de não sermos suficientes
para as exigências que o carcereiro chamado fé-na-fé nos impõe. Pois fé-na-fé
só conhece cobrança e exigência, não garante nenhuma liberdade, e ainda mais, nos
aprisiona em regulamentos e nos torna reféns do nosso próprio infortúnio.
Crer em Deus e em Sua Palavra produz
liberdade. Seja livre!
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